Opinião

Famoso desconhecido

Bob Dylan foi o artista responsável por dar à música popular em seu país a importância que jamais havia tido, especialmente pelas letras, profundamente poéticas

. -  (crédito: Fred TANNEAU / AFP)
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. - (crédito: Fred TANNEAU / AFP)

Assisti por duas vezes Ainda estou aqui, o filme de Walter Salles protagonizado pela extraordinária atriz Fernanda Torres, e, como todo brasileiro que se preza, fiquei orgulhoso com a conquista do Oscar na categoria de Filme Estrangeiro. Naquela oportunidade, estava no Rio de Janeiro e me juntei à torcida que comemorou a vitória, como se fosse em uma disputa de Copa do Mundo.

Mas, como repórter ligado à música, integrante da editoria de Cultura do Correio Braziliense e admirador da obra do cantor, compositor e guitarrista Bob Dylan, me ative também a Um Completo Desconhecido, a cinebiografia do ídolo e outro filme que concorreu, em três categorias (Direção, Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante), ao mais importante concurso internacional da Indústria Cinematográfica.

Vinte três anos antes, estava entre os milhares de privilegiados que, em 17 de abril de 2012, aqui em Brasília, se reuniram no Ginásio Nilson Nelson para ouvir e aplaudir o ídolo do folk rock norte-americano, num show memorável. Dylan emocionou a plateia ao revisitar clássicos de sua lavra, como Baby blue, Blow' in the wind e Like a Rolling Stone.

Em Um completo desconhecido, Bob Dylan é vivido por Timothée Chalamet — o galã do momento. Como compositor, Dylan começou a construir sua popularidade em 1965, aos 24 anos, após se apresentar no Festival de Newport. Viveu anos de glória nas décadas de 1970 e 1980, mas mantém a relevância em seu país, onde continua fazendo shows, gravando discos e influenciando artistas das novas gerações.

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Foi o artista responsável por dar à música popular em seu país a importância que jamais havia tido, especialmente pelas letras, profundamente poéticas. Por isso, foi premiado com o Nobel de Literatura. 

Prodígio do folk, encontrou ambiente propício para suas composições, que traduziam, como nenhuma outra, o espírito da época. A primeira leva ganhou registro no LP The Freweelin' Bob Dylan, de 1963, que traz canções de letras pungentes de protesto, principalmente contra a Guerra do Vietnã.

O artista, que, na adolescência se deixou fascinar pelo blues e o rock de Little Richard, conviveu com a glória nas décadas de 1970 e 1980. Ao chegar a Nova York passou a conviver com figuras como Dave Van Ronk e Pete Seeger, que vieram a ser seus mentores. Isso no momento em que a capital norte-americana desenvolvia grande interesse pelo blues e pelo folk, que orientaram suas primeiras apresentações.

Sua inquietude, numa encruzilhada em meio a uma crise existencial, o levou a dedicar-se à análise em suas criações, representada pelo hino Like a Rolling Stone, que traz, na letra, uma metáfora autobiográfica, na qual ele deixou claro o desencanto do povo americano após o assassinato do presidente John Kennedy e a participação na Guerra do Vietnã.

No Brasil, foram lançados 12 álbuns de Bob Dylan, e o mais recente é Time of mind, de 1997. Vinte anos antes, Gal Costa gravou Negro amor, versão de Baby Blues (do LP Briging alt Back Home), feita por Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, uma das faixas do CD Caras & Bocas

Irlam Rocha Lima
IR
postado em 20/03/2025 06:00