
A manifestação organizada em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, no domingo, em Copacabana, no Rio, deve ter frustrado os seguidores do capitão. Afinal, o público de apoiadores presentes foi bem abaixo do calculado. As redes bolsonaristas esperavam ao menos 500 mil manifestantes, mas em torno de 18 mil pessoas compareceram ao bairro carioca.
Mais desolador, entretanto, foi uma manifestação bolsonarista ocorrer no dia seguinte à celebração de 40 anos da restauração democrática no Brasil. Bolsonaro, como se sabe, tem julgamento marcado na próxima semana, no Supremo Tribunal Federal por envolvimento em trama golpista engendrada em 2022. Na acusação, a Procuradoria-Geral da República atribui cinco crimes ao ex-presidente: liderança de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado por violência; e grave ameaça contra o patrimônio da União.
Apesar das manifestações do ex-presidente, é uma incongruência incontestável alguém que defende o torturador Carlos Brilhante Ustra alegar que está sendo perseguido em um regime democrático. Ao reivindicar a anistia ao 8 de janeiro, está claro que Bolsonaro está mais preocupado com o futuro político dele do que com uma eventual condescendência aos participantes da infâmia cometida contra os Poderes da República.
A presença dos governadores Cláudio Castro (RJ) e Tarcísio de Freitas (SP) sugere alguma solidariedade às queixas do ex-presidente. Mas indica, na verdade, o projeto político dos dirigentes estaduais — não junto do
ex-presidente, mas com os votos dele. Castro tem por meta deixar o Palácio Guanabara rumo ao Senado, numa das duas vagas em disputa nas eleições do ano que vem. Tarcísio, por sua vez, pavimenta a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes com o amparo de extremistas de direita e de moderados. E constrói uma imagem palatável para ter chances ao Planalto, em 2030. À hora conveniente, o eleitor julgará esses movimentos.
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O ex-presidente insiste na ilusão de que será candidato no futuro próximo. E, de quebra, acrescenta cores dramáticas ao seu status. “Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto. Mas eu deixo acesa a chama da esperança, da libertação do nosso povo”, disse. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, afirmou que a manifestação de domingo era contra o “alexandrismo”. Tratase de mais uma narrativa, pois todas as decisões que se referem ao inquérito do golpe vêm sendo referendadas pelo conjunto do STF. A Corte fará novo movimento nesse sentido a partir da próxima semana.
Com a inelegibilidade de Bolsonaro praticamente certa, fariam melhor os apoiadores do ex-presidente se trabalhassem para apresentar uma alternativa à candidatura governista em 2026. É público e notório que
o governo Lula tem sérios problemas de popularidade, pois não consegue oferecer uma economia menos hostil para a população brasileira, sufocada pela alta dos alimentos e pelos juros crescentes. No jogo democrático, ao qual Bolsonaro não tem muito apreço, há uma avenida para a oposição se preparar para a disputa eleitoral no próximo ano.
A verdade é que, seja com o governo de plantão, seja com o ex-titular do Planalto, o país carece de lideranças que consigam responder de forma mais satisfatória aos anseios da sociedade. O Brasil está cansado da polarização. O eleitor busca homens públicos que se coloquem acima da rasteira briga
partidária e implementem projetos que redundam em melhores empregos, mais investimentos e mais justiça social.