Opinião

Falhas no combate ao crime organizado

O Brasil precisa direcionar seu radar para decisões que atinjam a raiz financeira do tráfico, dos assaltos, dos golpes e de toda a gama de ataques delituosos que causam prejuízos materiais e destroem famílias

 A descapitalização das facções é uma das principais estratégias para vencer a guerra contra o crime organizado
 -  (crédito:  Divulgação/PCDF)
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A descapitalização das facções é uma das principais estratégias para vencer a guerra contra o crime organizado - (crédito: Divulgação/PCDF)

A violência no Brasil é um fenômeno estrutural, que cada vez mais tira a paz da população. O medo constante e as perdas materiais afetam a qualidade de vida nas metrópoles e nas pequenas cidades, que também entraram na rota da bandidagem. Nesse contexto histórico, desmantelar o crime organizado é a missão das autoridades na batalha para estabelecer a segurança pública no país.

Na última terça-feira, uma operação no Rio de Janeiro derrubou, literalmente, uma facção com vasta lista de delitos. Agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) invadiram o “Resort Green”, local com lago privado para a criação de carpas, piscinas, academia de ginástica com equipamentos modernos, área de churrasqueira e areia de praia — tudo demolido durante a batida policial. O luxo servia para proveito de integrantes do Terceiro Comando Puro. O “complexo de lazer” era bancado com o lucro de ações ilícitas variadas, especialmente tráfico e assaltos.

Segundo informação da própria Polícia Civil, foram quase dois anos de investigações para reunir os elementos que possibilitassem a conclusão do caso e levassem à consequente tomada do espaço. Um tempo longo demais para colocar fim a tamanha ousadia e afronta em uma construção que destoava das demais ao redor em Paradas de Lucas, na Zona Norte da capital fluminense.

A questão é que o poder financeiro do crime organizado atingiu patamares assustadores e desafia governos, instituições e cidadãos. Com as contas cheias, as quadrilhas têm expandido suas áreas de atuação e, hoje, estão infiltradas em diversos setores. A ostentação dos criminosos — com mansões, carros milionários, joias e outros itens — parece não ter limites. Diante desse cenário, a descapitalização das facções é uma das principais estratégias para vencer essa guerra.

O bloqueio bancário, a apreensão de bens, o confisco de ativos de alto valor e a interdição de mercadorias ilegais são medidas apontadas por especialistas para surtir o efeito necessário no combate às quadrilhas que operam, inclusive, com ordens de condenados dentro de presídios.

Com tanta tecnologia disponível, a movimentação de recursos entre contas de membros de facções sem levantar suspeitas das autoridades é inadmissível. Planos coordenados entre as forças de segurança e as instituições financeiras precisam ser adotados para prevenir e impedir a lavagem de dinheiro. Em 2024, conforme dados da Polícia Federal, um prejuízo de R$ 5,6 bilhões foi imposto às facções, impactando diretamente na redução da capacidade de ação dos criminosos.

Investir na estrutura de investigação para a descapitalização das organizações criminosas é fundamental. As artimanhas da bandidagem não podem superar a inteligência dos órgãos de combate. O emprego de empresas de fachada, a ocultação de dinheiro e o uso de pessoas físicas para esconder a origem dos montantes têm de ser anulados pelas autoridades competentes.

Sem minar a capacidade de movimentação do dinheiro que financia as atividades ilícitas, especialmente por meios virtuais, fica praticamente impossível sair vitorioso desse embate. O Brasil precisa direcionar seu radar para decisões que atinjam a raiz financeira do tráfico, dos assaltos, dos golpes e de toda a gama de ataques delituosos que causam prejuízos materiais e destroem famílias. Os brasileiros não podem mais viver acuados enquanto veem o crime organizado conservar seu poder de circulação de dinheiro ilegal, que mantém a capacidade de ação das facções.

 

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postado em 17/03/2025 06:00 / atualizado em 17/03/2025 06:00