Opinião

Visão do Correio: BC solitário no combate à inflação

O Banco Central está se preparando para aplicar mais uma dose do remédio amargo para conter a inflação. O governo Lula precisa contribuir mais para que o país saia desse momento delicado

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"O descompasso entre a política monetária e a política fiscal é uma das críticas recorrentes à administração petista" - (crédito: Freepik)

Marcada para terça e quarta-feira, a próxima reunião do Copom, com a expectativa de elevar para 14,25% a taxa Selic, vai confirmar o trabalho praticamente solitário do Banco Central na tentativa de conter a escalada da inflação. Ajudaria muito a missão da autoridade monetária se o governo do presidente Lula seguisse com mais firmeza o ajuste fiscal necessário, ao invés de anunciar medidas expansionistas, com riscos de desequilíbrio nas contas públicas e aumento do endividamento.

O descompasso entre a política monetária e a política fiscal é uma das críticas recorrentes à administração petista. Na semana passada, durante o evento Brasil Summit, promovido pelo grupo Lide e pelo Correio Braziliense em Brasília, o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles foi didático ao explicar a incongruência atual na economia brasileira. “Esse é um problema importante, porque, quando temos uma política fiscal expansionista, a política monetária precisa ser contracionista — e o equilíbrio se dá com uma taxa de juros mais elevada”, explicou.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), seguiu a mesma toada. “Não dá mais para afastar decisões do governo da responsabilidade fiscal”, alertou, ainda no evento em Brasília. Considerando a participação do Congresso Nacional no debate, é preciso acrescentar que a austeridade nas contas públicas passa também por um controle mais rigoroso das emendas parlamentares. Ao longo dos anos, os excessos cometidos por integrantes do Legislativo resultaram em diversas afrontas à transparência no manejo dos recursos públicos, obrigando o Supremo Tribunal Federal a exigir o cumprimento dos princípios constitucionais de publicidade, moralidade e eficiência.

Cabe ao Executivo, porém, uma maior parcela de responsabilidade para se chegar ao equilíbrio fiscal. Infelizmente, as medidas adotadas na primeira metade deste mandato do presidente Lula se mostraram insuficientes. Além de anunciar novidades como mais acesso ao consignado — uma temeridade em um cenário de juros altos — o governo tem feito alarde em propostas como a isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil. Ocorre que ainda não está garantido de que forma será possível compensar a renúncia de aproximadamente R$ 25 bilhões. É preciso lembrar que essas soluções precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional, onde há uma resistência a propostas como taxação de super-ricos, uma das possíveis alternativas para a isenção do IR.

O complexo cenário econômico se torna mais dramático particularmente para a população de baixa renda. De um lado, a alta de alimentos tem comprometido cada vez mais o orçamento das famílias, e as medidas anunciadas pelo governo só terão algum efeito a longo prazo, na melhor das hipóteses. De outro, os juros altos tornam cada vez mais perigoso o endividamento e a inadimplência.

O Banco Central está se preparando para aplicar mais uma dose do remédio amargo para conter a inflação. O governo Lula precisa contribuir mais para que o país saia desse momento delicado com rapidez.

 

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postado em 16/03/2025 06:00