
Este que vos escreve cresceu com as redes sociais. Lembro-me de um mundo sem Instagram, TikTok e companhia. Hoje, vivo em outro cenário, em que a ausência de infinitas redes é quase inimaginável. Ter essa experiência ajuda a perceber o quanto a filosofia das redes sociais mudou ao longo desse breve curso de tempo. Agora, parece muito menos encantadora, e cada vez mais voraz em direção ao lucro.
Recentemente, esbarrei em um vídeo que alugou um triplex na minha cabeça. Um garoto, de uns 10 ou 11 anos, foi perguntado sobre qual era seu sonho de vida. "As redes bombadas. Pra lá de um milhão de seguidores", foi a resposta.
Não é para menos. Quem conta com um milhão de seguidores no Instagram, por exemplo, terá uma expressiva fonte de renda (além da fama). De acordo com um levantamento da empresa MField para a revista Forbes em 2023, o valor de uma "ação" — conjunto de posts, como uma campanha publicitária — na rede para um público de até 1 milhão de seguidores pode render até R$ 24 mil.
Os valores variam muito. Certas plataformas ainda pagam pelo conteúdo em visualizações (independentemente de publicidade). As possibilidades de remuneração existem, desde que a presença nessas redes compense.
O grande pulo do gato para este humilde jornalista — que não é nem um pouco influenciador de nada — é olhar a outra ponta: o que essas plataformas de redes sociais estão ganhando?
A Meta (que engloba Instagram e Facebook) informou um lucro astronômico de US$ 62 bilhões em 2024. Uma alta de 60% em comparação com 2023. E, segundo o CEO da marca, Mark Zuckerberg, a expectativa é de que o número siga em alta nos próximos anos.
Agora você pode estar se perguntando "Ué, a empresa tem de ter o lucro dela, e nem é o maior entre grandes big techs". Ok, é um argumento. A grande questão é pensar no que as plataformas de redes sociais realmente oferecem.
É um "serviço" meio estranho. Voltando para o exemplo do Instagram: ninguém abre o aplicativo para apreciar a construção técnica da possibilidade de fazer upload de vídeos e fotos. A gente busca um conteúdo que nos divirta, que nos informe, que seja de qualidade (nesta última até fazemos exceções).
A grande verdade é que as pessoas sustentam o "serviço" básico de toda rede social. E essa é uma verdade inconveniente (para as empresas). São literalmente bilhões em lucro, com um mínimo dividido entre quem realmente faz o trabalho de criar conteúdo nessas plataformas. E a ilusão de um ganho robusto, proporcionada pela publicidade, tampa os olhos para essa verdade.
Crianças espelham sonhos em redes sociais, que no final do dia só veem as plataformas como fontes de lucro, que podem ser desativadas ou manipuladas ao bel-prazer das empresas. Seu perfil pode cair a qualquer momento, sem qualquer explicação, e você não poderá fazer nada.
Sim, as redes sociais já foram um lugar de comunicação, revolução. Em tempos contemporâneos, contudo, transformaram-se em algo exploratório, que apenas se disfarçam de um oásis de rendimento e pouco trabalho.