SOCIEDADE

Reflexões sobre a pandemia e a morte de Gene Hackman

A história do ator Gene Hackman e tudo que a pandemia nos ensinou são um convite à ação. Que tal um pequeno gesto de carinho?

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"Como sofria de Alzheimer em estágio avançado, médicos avaliam que é bem provável que sequer tenha percebido que a mulher dele havia morrido uma semana antes, vítima de hantavirose, no mesmo local" - (crédito: Hector Mata/AFP)

A morte do ator Gene Hackman, há três semanas nos Estados Unidos, e os cinco anos da pandemia de covid-19, completados na terça-feira, são duas situações que nos levam a pensar sobre a essência da vida e a importância das relações humanas.

Em relação a Hackman, ganhador de duas estatuetas do Oscar e quatro Globo de Ouro, as investigações policiais indicam que o ator de Hollywood estava sozinho em casa quando o coração deixou de bater por causas naturais. Como sofria de Alzheimer em estágio avançado, médicos avaliam que é bem provável que sequer tenha percebido que a mulher dele havia morrido uma semana antes, vítima de hantavirose, no mesmo local. Além disso, não fez uma única ligação nem se alimentou.

Como bem me disse um amigo, mesmo com Alzheimer, tudo indica que os últimos dias de Hackman devem ter sido difíceis e dolorosos. Não recebeu contato de nenhum dos filhos, o que torna a situação ainda mais triste. Os motivos de eventuais afastamentos familiares não estão em discussão, mas, sim, a importância de parentes e dos amigos, bem como devemos sempre estar presentes na vida daqueles que amamos.

Por isso, vejo uma clara conexão com os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Cinco anos atrás, entrávamos em um período de confinamento que nem de longe imaginávamos que ficaríamos por quase dois anos distantes do convívio social. Entre os diversos isolamentos obrigatórios que ocorreram, durante um bom tempo os contatos eram apenas virtuais.

Esse distanciamento físico levou a uma valorização de cada momento ao lado das pessoas que são importantes para nós. A empatia e o senso de coletividade, com o uso de máscaras, também se mostraram ainda mais importantes. E há também um outro que considero fundamental: estarmos sempre preparados para as mudanças.

Assim, conclamo à reflexão: a história de Hackman e tudo que a pandemia nos ensinou são um convite à ação. Pequenos gestos, como abraços mais apertados e ligações inesperadas, muitas vezes servem para mostrar para uma pessoa que ela não está sozinha.

Entre março de 2020 e março de 2025, muita coisa mudou. Imagino que na vida de todos nós. E vai bem além de uma expressão que era moda na pandemia: o "novo normal".

 

Roberto Fonseca
postado em 14/03/2025 06:00