
Aos 17 anos, Vitória Regina foi encontrada morta em Cajamar, interior de São Paulo, após avisar a uma amiga sobre a presença de suspeitos em um ônibus do transporte público usado por ela para retornar do trabalho para casa, no último dia 26. O corpo, encontrado em 5 de março, tinha sinais de tortura, e a principal linha de investigação, no momento, aponta para uma susposta vingança. Mas uma das notícias que mais surpreenderam a sociedade passa pela inclusão do pai da jovem entre os suspeitos, descartada pela polícia horas depois. Em luto pela morte da filha, Carlos Alberto precisou recorrer a um advogado para se defender da acusação.
Erros em sequência cometidos pelas autoridades de segurança pública, sobretudo em crimes de ampla repercussão nacional, levam à produção frequente de documentários, podcasts, séries e outros documentos que recontam histórias que marcam o país e evidenciam como o despreparo pode ter desdobramentos tão criminosos quanto os delitos iniciais. Basta relembrar os já bem pormenorizados fracassos das investigações dos casos Evandro (no Paraná), Eloá (em São Paulo) e dos meninos emasculados de Altamira (no Pará).
A pressão popular por uma solução para um crime de repercussão pode levar a uma caça às bruxas pouco frutífera para a segurança pública no país. Por temer os reflexos negativos para suas imagens, governantes e outras autoridades costumam apertar ainda mais o cerco em busca de respostas satisfatórias, com a prisão de culpados que justifique a barbárie. Antecipar etapas, porém, coloca em risco uma atuação séria e comprometida dos órgãos competentes, o que se espera no enfrentamento de qualquer crime.
Em casos de falhas que se revelam grosseiras, há a possibilidade, ainda, de impacto em dois fenômenos que também comprometem a segurança pública: críticas em relação à eficiência de agentes que atuam na área e baixa resolução dos casos de homicídios. Há de se destacar, nesse último quesito, a performance vergonhosa do Brasil. Segundo a pesquisa intitulada Onde mora a impunidade?, do Instituto Sou da Paz, 61% dos homicídios dolosos no país, em 2022 — o equivalente a seis em cada 10 — não foram solucionados. No ano anterior, a taxa foi de 65%.
Os números, obviamente, evidenciam que o país carece de políticas que privilegiem investigações de qualidade, como a priorização de profissionais e aparato técnico, além da melhor integração dos trabalhos das polícias e do Ministério Público. Porém, há excessos. Fazem parte das investigações policiais os depoimentos contraditórios de testemunhas e suspeitos, as limitações na perícia, a lentidão processual e a pressão social por respostas. Mas tragédias não devem ser palco de irresponsabilidade e avidez por parte de quem tem o desafio de elucidar crimes como profissão.
A busca por uma resposta a qualquer custo faz casos de homicídios e outros crimes de grande repercussão virarem, até mesmo, guerra de versões em busca de uma melhor imagem dos entes públicos diretamente envolvidos e interessados e dar respostas à sociedade. Aprender com os erros do passado deve ser prioridade para as autoridades brasileiras. Exemplos não faltam.