
Pedro Rogério Moreira**
A ideia de que, em política, ninguém se perde no caminho de volta (frase do notável paraibano José Américo de Almeida) está sendo desmentida por quem percorreu o mesmo caminho duas vezes, com sucesso, e buscou de novo percorrê-lo, para decepcionar a torcida e causar até revolta em parte dela. Desolados, muitos procuram quem possa, em 2026, fazer a jornada com sucesso, mesmo não tendo nas costas a experiência do caminho a percorrer. Essa hipótese vale se o caminheiro persistir na caminhada errática, de que tem dado seguidas mostras.
Tendo perdido a tramontana, ele busca atalhos já conhecidos por não levar a lugar algum, na melhor das hipóteses, ou levar ao precipício indesejado. É onde mora o perigo, sobretudo os econômicos de uma atualidade que não favorece uma jornada tranquila.
Castro Alves alertava o caminheiro: "Quando vires a cruz abandonada/Deixa-a em paz dormir na solidão". O mesmo poeta aconselha depois: "Que vale o ramo de alecrim cheiroso/Que lhe atiras nos braços ao passar?/Vais espantar o bando buliçoso/Das borboletas, que lá vão pousar".
Ainda agora, as buliçosas borboletas do Congresso ficaram desalentadas com o perfume do alecrim que o andarilho que se perdeu no caminho de volta acaba de lhe atirar na semana passada. É uma flor perempta, portanto de odor imperceptível. O caminheiro interpreta erroneamente para onde sopra o vento. Nem colheu corretamente a essência de que gostam as borboletas, as do Congresso e as que volteiam no jardim do próprio caminheiro. Ele busca novamente o atalho pedregoso, de flores murchas.
É por isso que parte da plateia que assiste o caminhar do viajante errático já anda atrás de um caminheiro que não consuma suas energias nem a energia da nação com quizílias. Que não faça piruetas para distrair a torcida.
Busca-se alguém com compromisso social em primeiro lugar, tal qual o caminheiro que se perdeu; que governe voltado para os necessitados, como ele o fez tão bem nas duas caminhadas anteriores. E que não onere mais a classe média. Fez muito bem em procurar baixar o preço do café e do óleo; que faça mais para a cesta básica: aí mora a brisa desejada por todos neste ano de calor, que dificulta a jornada.
Busca-se aquele que, no primeiro dia de governo, desça do palanque e acabe com a farra das emendas orçamentárias. Que seja topetudo para denunciar os ladrões do dinheiro público escondidos no Congresso, no Judiciário, no próprio Executivo e no empresariado. Que rompa com o financiamento vergonhoso da enxurrada de partidos políticos cujos dirigentes só fazem embolsar o dinheiro público (imaginem: o PL tem a desfaçatez de conceder a Bolsonaro um salário de quarenta mil reais!).
Alguém, por favor, que só anuncie obras de infraestrutura depois de terminar as iniciadas. Que não desperdice dinheiro com carnaval, festivais, estádios, reuniões internacionais de qualquer cunho que outros países, mais ricos, podem patrocinar.
Que seja exemplo das virtudes que se exigem do caminheiro ideal. Um caminheiro que não carregue ninguém na cacunda. Que não tenha apaniguados no seu círculo de giz, nem os mais amorosos. Melhor ainda: que nem risque o círculo completo, ao contrário, abra-o, para arejá-lo. Que nomeie pelo mérito, pela expertise, pelo valor técnico.
A torcida pede que o caminheiro cobre dos "países amigos", como Cuba e Angola, a dívida real, monetária, que eles têm com o Brasil e que nos está fazendo falta aqui para enfrentar os nossos deficits sociais.
Que continue a promover uma política externa independente, mas sem saracoteios de vanglória para a plateia da copa e cozinha. Que tenha a coragem (como o caminheiro original tinha) de denunciar ditaduras do tipo Nicarágua e Venezuela. Denunciar e romper com elas.
A torcida quer um caminheiro que tenha como prioritária uma política de reindustrialização do país, sem menosprezar o agronegócio e o sistema financeiro. Que coloque esses dois setores a reboque da indústria tão fragilizada hoje e que poderá ficar mais fraca com a corrida do caminheiro tresloucado dos Estados Unidos. É a indústria que tem melhores condições de criar a massa de empregos para combater a miséria nos grandes centros urbanos. O caminheiro sabe na pele que a indústria é libertária.
Afinal, sem nostalgia, busca-se um caminheiro igualzinho ao que o Brasil escolheu em 2003; não aquele que acabou se perdendo no caminho da volta ao percorrer pela terceira vez o mesmo caminho. Busca-se o original.
** Jornalista
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