Opinião

Então diga que valeu, valeu demais…

Hoje, parte de nós deixará o samba no compasso de espera e estará com olhos voltados para Los Angeles. Fernanda passando no tapete vermelho será já o desfile da campeã.

'Ainda estou aqui' foi indicado ao Oscar de 2025 em três categorias: Melhor Atriz (Fernanda Torres), Melhor Filme e Melhor Filme Internacional -  (crédito: Divulgação)
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'Ainda estou aqui' foi indicado ao Oscar de 2025 em três categorias: Melhor Atriz (Fernanda Torres), Melhor Filme e Melhor Filme Internacional - (crédito: Divulgação)

É hoje o dia que vamos segurar o coração fora do peito — perdoem o clichê, mas a imagem é esta mesmo. Carnaval com brasileiro disputando o Oscar é coisa que nunca se viu por aqui. Nós todos já entendemos que a trajetória até aqui já valeu, valeu demais, como diz um dos hinos do axé. Mas, cá para nós, queremos ganhar.

A arte brasileira merece ganhar. Fernanda Torres, Walter Sales, todo o elenco, a família Paiva, a memória de Eunice e Rubens merecem levar ao menos uma estatueta. Já é histórico o feito. Faz tempo que o brasileiro não sentia tanto orgulho do Brasil. E não anda fácil ter orgulho do Brasil. Acho mesmo que só a cultura e o esporte são capazes de trazer esse sentimento tão genuíno e forte à tona.

Ainda estou aqui cumpriu uma agenda linda. Fernanda Torres brilhou com todo o seu talento, já íntimo nosso — também com inteligência, senso de humor e elegância. Nunca foi tão pop e tão celebrada. Entrou definitivamente para o rol das grandes atrizes do cinema mundial, assim como sua mãe, Fernanda Montenegro.

Fazemos aqui o maior espectáculo da Terra, um grandioso teatro a céu aberto, de Norte a Sul. Neste, somos todos protagonistas, com nossas fantasias vestindo o corpo, nossos pés tocando o chão em marcha e dança. Levamos para a rua uma reza que é a pura alegria, em seu estado mais bruto, e com a música e a raiz cultural que aceita tantos ritmos e cores. É muito bonito o carnaval.

Mas, hoje, parte de nós deixará o samba no compasso de espera e estará com olhos voltados para Los Angeles. Fernanda passando no tapete vermelho será já o desfile da campeã. Vamos acompanhá-la e torcer muito para que o cinema nacional tenha esse reconhecimento. Mesmo sabendo que já vencemos, que já foi lindo e emocionante. Mostrar uma história tão dolorida de forma tão íntima e digna, sem recorrer a cenas explícitas de violência, foi magistral. A trilha sonora do filme está comigo ainda, relançando clássicos para as novas gerações, que estão lotando os cinemas para conhecer parte da nossa história que jamais conseguiriam captar pelos livros ou pelos debates contaminados pela polarização política.

Nos últimos meses, já vivemos tudo isso, à medida que o filme ia conquistando espaços, palcos e plateias mundo afora. Agora chegou o dia. Não há como não ser passional, nacionalista, ufanista, patriótico ao extremo. Hoje acordamos com a suspeita de que será o dia mais alegre do ano. Assim seja.

 


Ana Dubeux
postado em 02/03/2025 06:00