Visão do Correio

É necessário surfar a onda

A revelação de atletas de altíssimo potencial não pode ser obra apenas do talento individual, mas consequência de um trabalho capaz de dar ao país predominância no maior número de modalidades possível

 Brazil's Joao Fonseca celebrates with the trophy after defeating Argentina's Francisco Cerundulo in the ATP 250 Argentina Open singles final tennis match in Buenos Aires on February 16, 2025. (Photo by Luis ROBAYO / AFP)
      Caption  -  (crédito: Fadel Senna/AFP)
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Brazil's Joao Fonseca celebrates with the trophy after defeating Argentina's Francisco Cerundulo in the ATP 250 Argentina Open singles final tennis match in Buenos Aires on February 16, 2025. (Photo by Luis ROBAYO / AFP) Caption - (crédito: Fadel Senna/AFP)

Sempre que chegam os Jogos Olímpicos, o coração do brasileiro se enche de expectativa para logo ver o hastear da bandeira verde-amarela ao som do hino nacional — sinônimo de conquista de medalha na maior competição esportiva do mundo. Na última edição, em Paris, foram 20 conquistas, número somente superado em Tóquio, onde o país faturou 21 condecorações. O noticiário esportivo do último fim de semana chama a atenção para um novo nome. Trata-se do carioca João Fonseca, promessa do tênis internacional. Aos 18 anos, o carioca venceu seu primeiro torneio da ATP (a Associação dos Tenistas Profissionais) em Buenos Aires, no domingo, o que lhe rendeu pontuação suficiente para entrar no top-70 do ranking de simples masculino. 

O surgimento de novos talentos individuais no esporte brasileiro prepara o terreno para uma ampliação do desempenho verde-amarelo em edições internacionais. A partir de nomes como Rebeca Andrade (ginástica olímpica), Caio Bonfim (marcha atlética) e Isaquias Queiroz (canoagem), o país encontra oportunidade para alavancar seu nome em modalidades nas quais, historicamente, nunca conquistou medalhas olímpicas. Expoentes que precisam ser combustível para inspirar crianças e jovens — a partir do necessário investimento público e privado no setor.

Entre o primeiro título de João Fonseca e a aposentadoria de Gustavo Kuerten, o principal tenista da história brasileira, somam-se 17 anos. A maneira como o país não soube surfar a onda do tricampeonato de Guga em Roland Garros (o Aberto da França, um dos maiores da modalidade) deve ser exemplo do que não fazer com o futuro da ginástica de Rebeca Andrade, do skate de Rayssa Leal e da canoagem de Isaquias Queiroz. 

Em outras palavras, a revelação de atletas de altíssimo potencial não pode ser obra apenas do talento individual, mas uma consequência de um trabalho de base robusto e de qualidade, capaz de dar ao país predominância no maior número de modalidades possível. Se o legado de Guga não foi bem trabalhado no tênis, os de Rebeca Andrade, Isaquias Queiroz e Rayssa Leal — para citar apenas nomes de amplo conhecimento da torcida — precisam ser tratados como sementes a serem germinadas na juventude brasileira. 

Nesse sentido, a valorização do Bolsa Atleta — programa do governo federal que financia carreiras desportivas de alto rendimento — se faz necessária. A iniciativa recebeu R$ 160 milhões em 2024, o que significou um recorde de cerca de 9 mil atletas. Houve um reajuste de 32% em relação a 2023. Um acerto da atual gestão, mas que só aconteceu após quase duas décadas de estagnação da política pública, que recebia, até então, o mesmo patamar de incentivo desde sua criação em 2005. 

Na delegação brasileira em Paris, 87,3% dos esportistas receberam recursos do programa. No boxe, por exemplo, todos os 10 classificados estavam na categoria mais alta da iniciativa, que paga entre R$ 5,5 mil e R$ 16,6 mil ao beneficiado por mês. O Brasil precisa olhar para o esporte com seriedade e investir não só em carreiras já consolidadas, mas se antecipar para identificar talentos desde os seus primeiros passos.

 

Opinião
postado em 19/02/2025 06:00