
Sempre que chegam os Jogos Olímpicos, o coração do brasileiro se enche de expectativa para logo ver o hastear da bandeira verde-amarela ao som do hino nacional — sinônimo de conquista de medalha na maior competição esportiva do mundo. Na última edição, em Paris, foram 20 conquistas, número somente superado em Tóquio, onde o país faturou 21 condecorações. O noticiário esportivo do último fim de semana chama a atenção para um novo nome. Trata-se do carioca João Fonseca, promessa do tênis internacional. Aos 18 anos, o carioca venceu seu primeiro torneio da ATP (a Associação dos Tenistas Profissionais) em Buenos Aires, no domingo, o que lhe rendeu pontuação suficiente para entrar no top-70 do ranking de simples masculino.
O surgimento de novos talentos individuais no esporte brasileiro prepara o terreno para uma ampliação do desempenho verde-amarelo em edições internacionais. A partir de nomes como Rebeca Andrade (ginástica olímpica), Caio Bonfim (marcha atlética) e Isaquias Queiroz (canoagem), o país encontra oportunidade para alavancar seu nome em modalidades nas quais, historicamente, nunca conquistou medalhas olímpicas. Expoentes que precisam ser combustível para inspirar crianças e jovens — a partir do necessário investimento público e privado no setor.
Entre o primeiro título de João Fonseca e a aposentadoria de Gustavo Kuerten, o principal tenista da história brasileira, somam-se 17 anos. A maneira como o país não soube surfar a onda do tricampeonato de Guga em Roland Garros (o Aberto da França, um dos maiores da modalidade) deve ser exemplo do que não fazer com o futuro da ginástica de Rebeca Andrade, do skate de Rayssa Leal e da canoagem de Isaquias Queiroz.
Em outras palavras, a revelação de atletas de altíssimo potencial não pode ser obra apenas do talento individual, mas uma consequência de um trabalho de base robusto e de qualidade, capaz de dar ao país predominância no maior número de modalidades possível. Se o legado de Guga não foi bem trabalhado no tênis, os de Rebeca Andrade, Isaquias Queiroz e Rayssa Leal — para citar apenas nomes de amplo conhecimento da torcida — precisam ser tratados como sementes a serem germinadas na juventude brasileira.
Nesse sentido, a valorização do Bolsa Atleta — programa do governo federal que financia carreiras desportivas de alto rendimento — se faz necessária. A iniciativa recebeu R$ 160 milhões em 2024, o que significou um recorde de cerca de 9 mil atletas. Houve um reajuste de 32% em relação a 2023. Um acerto da atual gestão, mas que só aconteceu após quase duas décadas de estagnação da política pública, que recebia, até então, o mesmo patamar de incentivo desde sua criação em 2005.
Na delegação brasileira em Paris, 87,3% dos esportistas receberam recursos do programa. No boxe, por exemplo, todos os 10 classificados estavam na categoria mais alta da iniciativa, que paga entre R$ 5,5 mil e R$ 16,6 mil ao beneficiado por mês. O Brasil precisa olhar para o esporte com seriedade e investir não só em carreiras já consolidadas, mas se antecipar para identificar talentos desde os seus primeiros passos.
Saiba Mais