
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou a estratégia de se dirigir diretamente à população, dispensando intermediários. Esse movimento reforça sua conexão com a sua base eleitoral, mas também o expõe mais diretamente às cobranças sobre a condução da economia. O desafio fiscal é um dos maiores obstáculos do governo. São objetivas as dificuldades para cumprir as metas na área: crescimento econômico modesto, arrecadação que pressiona o orçamento das empresas e dos consumidores e maior demanda por gastos públicos.
Os juros elevados, consequência do aumento da dívida pública, restringem o espaço para manobras financeiras, tornando mais difícil equilibrar as contas sem comprometer investimentos e programas sociais. Lula aposta no discurso político para manter sua popularidade e credibilidade, mas a realidade econômica pode testar os limites dessa abordagem. Sua capacidade de enfrentar esses desafios sem perder apoio popular já está sendo testada. O copo não está vazio, mas já não está pela metade.
As maiores dificuldades de Lula não estão nas novas ameaças que rondam o país após a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nem nas iniciativas da oposição liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que sonha com um impeachment do petista. São os gargalos fiscais que dificultam o equilíbrio das contas públicas. O governo bate recordes de arrecadação, porém, cresce o descontentamento social com a carga tributária, que bateu no teto e repercute nas pesquisas de opinião.
Criar taxas e impostos deixou de ser solução, virou um problema político. Até agora, o governo tem apostado em medidas para elevar a receita, como a reoneração da folha de pagamento e a taxação de fundos exclusivos e offshores, mas o impacto pode ser insuficiente para cobrir as despesas. Além disso, a revisão de benefícios tributários enfrenta forte resistência no Congresso e no setor produtivo.
Outro gargalo fiscal do governo são as despesas obrigatórias, como previdência, salários do funcionalismo e repasses a estados e municípios, que reduzem a margem para cortes de despesas. O cumprimento do arcabouço fiscal, assim, depende do crescimento robusto da arrecadação. Ao mesmo tempo, o governo enfrenta demandas por mais investimentos em infraestrutura, saúde e educação. O aumento do salário mínimo e dos programas sociais, como o Bolsa Família, eleva as despesas ainda mais. Além disso, segurança pública e defesa pressionam por mais recursos.
A dívida pública virou uma bola de neve, porque cresce com os juros elevados, o que encarece o serviço da dívida e consome parte significativa do orçamento. Mesmo que o Banco Central reduza a taxa Selic, os efeitos sobre o custo da dívida somente serão sentidos a médio e longo prazos. Para aumentar as dificuldades, propostas de aumento de arrecadação e contenção de gastos enfrentam dificuldades no Congresso, que tem uma base governista instável. Lula precisa se convencer de que austeridade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.