
Luiz Fernando Bandeira de Mello — Conselheiro do CNJ e ex-secretário-geral da Mesa do Senado
Passei 20 anos de minha vida profissional atuando no Senado Federal. Trabalhei diretamente com seis presidentes distintos. Testemunhei a política acontecendo, às vezes em momentos tensos, outras vezes festivos, de relevantes conquistas sociais. Pude observar como o estilo pessoal do senador à frente da Casa é fundamental para seu bom funcionamento.
Nos últimos quatro anos, Rodrigo Pacheco consolidou sua marca como um líder sereno, firme e comprometido com a estabilidade institucional do Brasil. Em tempos de turbulência política, como os que vivemos, sua atuação garantiu o equilíbrio necessário para que o Congresso Nacional permanecesse um pilar da democracia e do entendimento entre os Poderes.
Desde que assumiu a presidência da Casa, Pacheco nunca buscou protagonismo pessoal. Não precisava. Demonstrou respeito pelas instituições, promovendo o diálogo entre diferentes correntes políticas e reforçando o papel do Legislativo como espaço de debate e construção de consensos. Em um cenário de grandes desafios, ele soube manter a harmonia entre os Poderes sem abrir mão da autonomia do Senado. Quando necessário, devolveu liminarmente medidas provisórias. Quando prudente, retirou matérias de pauta para que o consenso pudesse ser alcançado.
A liderança de Pacheco foi determinante para a aprovação de pautas essenciais ao país. Durante seu mandato, foram votadas matérias fundamentais para o crescimento econômico, a proteção do meio ambiente e a defesa dos direitos da população. Não farei uma lista, seria enfadonho, mas apontaria a aprovação da reforma tributária, esperada há décadas; o novo marco legal das ferrovias, impulsionando investimentos nesse setor esquecido durante gerações; a regulamentação do mercado de carbono, reforçando o compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental; e o Propag, para sanear a dívida dos estados, projeto de sua autoria para o qual se dedicou com afinco.
Os episódios de janeiro de 2023 representaram um dos momentos mais críticos para a democracia brasileira. Nesse contexto, Rodrigo Pacheco exerceu um papel fundamental na defesa das instituições, rechaçando tentativas de deslegitimar o processo democrático. Sua atuação rápida e enérgica ajudou a restabelecer a ordem e garantir que o Congresso Nacional retomasse as atividades dias depois, demonstrando, simbolicamente, que a democracia seguia inabalada. Sua condução foi essencial para a preservação do processo democrático, especialmente nesses momentos de tensão institucional. Com serenidade, demonstrou que a força da política reside no respeito ao Estado de Direito, mas sobretudo no respeito à decisão tomada pelo voto popular.
Pacheco sofreu críticas injustas por não ter dado seguimento a processos de impeachment contra ministros do STF. Sua decisão evitou um agravamento da crise política, na certeza de que a harmonia entre as instituições é essencial para a estabilidade do país. Ao invés de ceder a pressões políticas momentâneas, ele optou por preservar o equilíbrio institucional, mesmo comprometendo a própria imagem popular, demonstrando maturidade e compromisso com a governabilidade. Em geral, é papel do presidente "sentir" a vontade do plenário, evitando levar a votação proposições que somente causariam desgaste, sem perspectivas de serem aprovadas. Ele usou essa capacidade de avaliação por diversas vezes.
Sua gestão foi marcada pela disposição ao diálogo. Seu perfil discreto, mas resolutivo, no tradicional estilo da melhor política mineira, consolidou-se como um exemplo de liderança equilibrada, capaz de unir diferentes setores em prol do interesse nacional. Rodrigo Pacheco coloca-se no mesmo patamar de outros políticos mineiros que fizeram história, de Tancredo Neves a Antonio Anastasia, de JK a Milton Campos e Pedro Aleixo.
Ao completar quatro anos na presidência do Senado, Rodrigo Pacheco reafirma sua vocação pública e seu compromisso com o Brasil. Sua trajetória nos deixa uma lição valiosa: a política pode — e deve — ser exercida com respeito, ponderação e compromisso com o bem comum. Seu legado já ocupa um lugar de destaque na história recente do parlamento brasileiro, que continuará a ser escrita enquanto estiver preservada a democracia e a boa política.