Opinião

Final feliz não é para todos

Impossível mensurar o martírio dessa e de tantas outras famílias país afora. A angústia de não ter respostas sobre suas crianças ou adolescentes desaparecidos

Policiais encontraram bebê raptado em Curitiba: cabelo cortado, pintado e alisado  -  (crédito: Reprodução RPC)
x
Policiais encontraram bebê raptado em Curitiba: cabelo cortado, pintado e alisado - (crédito: Reprodução RPC)

Eloah teve o cabelo cortado, pintado e alisado, mas estava bem de saúde. Menos de 32 horas depois de a criança de 1 ano e 5 meses ter sido sequestrada, em Curitiba, a polícia conseguiu resgatá-la. Ela tinha sido raptada na última quinta-feira por uma mulher que fingiu ser agente de saúde. Os policiais chegaram ao cativeiro após receberem denúncias de onde o carro da criminosa tinha sido visto e rastreá-lo por meio de câmeras de segurança.

Com o sucesso da operação, a Secretaria de Segurança do Paraná enfatizou que o estado soluciona 100% dos casos de desaparecimento de crianças, graças à integração das forças policiais. Segundo a pasta, de 2019 a 2024, houve 888 registros de sumiço de meninas e meninos, e todos foram resolvidos.

A menina Eloah pôde voltar aos braços dos pais, e saudável. Felizmente, para essa família a dor e o desespero não se prolongaram. É desolador que nem todos os desaparecimentos de crianças e adolescentes sejam tão prontamente resolvidos. 

No Paraná mesmo, há um caso que ganhou notoriedade nacional, mas permanece sem um desfecho. Já se passaram 11 longos anos desde que João Rafael Kovalski desapareceu em Adrianópolis. A última vez em que foi visto, brincava no quintal de casa, em agosto de 2013, cinco dias antes de completar 2 anos.

À época, a hipótese inicial foi de que o menino teria caído no rio que passa praticamente nos fundos da casa. As buscas, porém, não deram em nada. A família não tem dúvidas de que ele foi sequestrado. A investigação seguiu pistas, tomou dezenas de depoimentos, mas em nada progrediu.

A falta de avanços não diminuiu a esperança dos parentes de João Rafael. Eles juntaram a dor com a determinação de jamais desistir das buscas. Cobram reiteradamente a polícia, vão atrás de todo e qualquer indício e mantêm páginas sobre o menino em redes sociais — com uma projeção da aparência que teria atualmente. As postagens também têm vídeos do garoto, declarações de amor para ele, parabéns a cada aniversário. Há mensagens, inclusive, da irmã gêmea dele, pedindo que volte para casa. É de partir o coração.

Impossível mensurar o martírio dessa e de tantas outras famílias país afora. A angústia de não ter respostas sobre suas crianças ou adolescentes desaparecidos. Se estão vivos, se são bem tratados, se estão saudáveis e felizes. Uma ferida que não sara, um tormento sem fim.   

Cida Barbosa
postado em 30/01/2025 06:00