Opinião

Que tal nomear os novos campi da UnB?

Há nomes fundamentais da história da Universidade de Brasília (UnB) que caíram no esquecimento e que merecem essa homenagem

Professor sugere que campus do Gama seja chamado de Anísio Teixeira -  (crédito:  Secom UnB)
Professor sugere que campus do Gama seja chamado de Anísio Teixeira - (crédito: Secom UnB)

Gilberto Lacerda Santos — Professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Ph.D. em educação, doutor em sociologia

 

Recentemente, o Museu Virtual de Ciência e Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB), com apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), disponibilizou uma exposição sobre o arquiteto Lelé Filgueiras, um personagem incontornável da história da universidade e da cidade, coautor, juntamente com Oscar Niemeyer, do projeto estruturalista do ICC, o minhocão, e autor de diversas obras no Campus Darcy Ribeiro (como a chamada Colina Velha e o Almoxarifado Central) e fora dele (como o Hospital Regional de Taguatinga e os hospitais da Rede Sarah).  Esse trabalho de educação patrimonial, que pode ser acessado em https://lele.museuvirtual.unb.br, surgiu a partir de uma enquete realizada durante a 19ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em 2022, que revelou que Lelé tinha caído no esquecimento das novas gerações.

Motivado pela repercussão do trabalho, que virou exposição física no Museu da República e que será exibida na Maison du Brésil, em Paris, em 2025, a equipe do Laboratório Ábaco, vinculado ao Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação, que gerencia o museu virtual, efetuou outras enquetes, junto a estudantes da UnB, em torno de outros nomes da história da universidade. E o resultado é o mesmo: desconhecimento total. 

Mesmo Darcy Ribeiro, intelectual venal do país, fundador e primeiro reitor da UnB, é, geralmente, ignorado por grande parte de nossos estudantes. Em março de 1995, Darcy Ribeiro recebeu o título de doutor honoris causa da UnB, no Teatro de Arena. Nessa mesma ocasião, o campus foi oficialmente rebatizado com o nome do antropólogo, que morreu dois anos mais tarde.

Mas, há outros nomes fundamentais da história da UnB que caíram no esquecimento e que mereceriam homenagem semelhante. E se o Campus de Planaltina, onde há uma graduação em educação no campo, fosse nomeado Campus Lady Lina Traldi, em homenagem a essa educadora paulista que, em 1966, fundou a Faculdade de Educação da qual foi a primeira diretora? Não seria um tributo justo a essa pioneira que atuou na formação de toda uma geração de intelectuais que resistiram ao regime militar, como a professora Regina Vinhaes Gracindo, falecida em novembro de 2015, que foi secretária de Educação do DF e conselheira do Conselho Nacional de Educação? 

Não seria Anísio Teixeira, figura fundamental da história da educação pública nacional e idealizador da UnB, um excelente nome para o campus do Gama? Assim, o campus Anísio Teixeira homenagearia esse grande brasileiro que foi reitor da UnB de junho de 1963 a abril de 1964, quando foi afastado pela ditadura militar, aposentado compulsoriamente e que morreu em 1971 em circunstâncias consideradas até hoje não elucidadas.

E o campus da Ceilândia? Tornado Campus Frei Mateus Rocha, homenagearíamos aquele que, em 1959, no bojo de manifestações de grandes cientistas brasileiros, que se juntavam na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, intercedeu pessoalmente junto ao Papa João XXIII para que a nova universidade não fosse pontifícia, mas laica, pública e gratuita. Frei Mateus, que inspirou o personagem Fradim, do genial Henfil, e que figura em um belo retrato a óleo na Sala do Conselho da Faculdade de Educação, foi reitor entre 1962 e 1963, vice-reitor na gestão de Anísio Teixeira e fundador do Instituto de Teologia da UnB, celeiro intelectual fechado pelo regime militar em 1968, quando a universidade foi invadida e cerceada.

Por fim, e no caso da UnB vier a implantar um quarto campus, penso que seria justo homenagear aquela que foi uma das pioneiras das ações de extensão da instituição. Trata-se da belga Yvonne Jean, jornalista judia que chegou ao Brasil aos 29 anos, em 1940, fugindo da invasão nazista a seu país. Em 1962, emigrou para o Distrito Federal, criou a coluna Esquina de Brasília, do Correio Braziliense, com crônicas sobre o cotidiano da cidade e, convidada por Darcy Ribeiro, foi fundadora do Centro de Extensão Cultural da UnB. Em 1971, ela foi condenada a um ano de prisão, acusada de envolvimento em “práticas subversivas”. A jornalista faleceu em 1981, pouco antes de completar 70 anos de idade.

Como diria meu filho: fica a dica!


 

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postado em 14/01/2025 06:00
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