Na semana do Natal, uma Organização da Sociedade Civil (OSC), com sede em Ceilândia, repetiu, como tem feito há vários anos, uma caminhada solidária, às vésperas da data cristã, para distribuir marmitas a moradores em situação de rua. Uma forma de amenizar as dificuldades enfrentadas aos que não desfrutam de um lar nem têm como participar da tradicional ceia natalina.
A percepção dos caminhantes foi de que houve um aumento de mulheres, homens e jovens às margens da linha do metrô na comparação com anos anteriores. Em 2023, os integrantes conseguiram fazer o mesmo percurso, alcançar e levar um alento aos que vivem debaixo dos viadutos. Dessa vez, as quase 100 marmitas foram esgotadas em menos de uma hora, na caminhada na borda do metrô.
Há menos de 10 dias, a mesma OSC, com auxílio de doadores, foi entregar cestas básicas às pessoas que vivem na Cachoeirinha, no Setor Habitacional Sol Nascente. Foram entregues mais de 80 cestas, somando cerca de 1 tonelada de alimentos. Lamentavelmente, o que parecia uma grande quantidade foi insuficiente para todos que estavam na fila, organizada pela ONG Vida.
O ambiente e a falta de estrutura do local indicavam as condições inadequadas de vida dos moradores. Nas ruas sem pavimentação, buracos na estrada de barro estavam cheios de água, um ambiente propício à proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue.
A cada incursão que a OSC faz na bainha do Distrito Federal, depara-se com desumanos cenários no quadradinho do Goiás, que abriga os mais elevados poderes da República. À medida que se caminha nos bairros periféricos, a situação é mais drástica. Imagina-se como as famílias podem viver em um largo espaço de penúria. Indaga-se quais as razões da invisibilidade que têm essas pessoas ante os poderes públicos. Em lado oposto à grave pobreza, na qual residem pessoas com boa situação financeira, o Estado não para de fazer obras, ampliando o conforto dos que, naturalmente, usufruem dos equipamentos do perímetro urbano.
Ao dialogar com os esquecidos, constata-se que grande parte está desempregada. A maioria não concluiu sequer o ensino fundamental e alguns não foram alfabetizados. Assim, vivem em indiscutível desvantagem e tentam suprir suas necessidades básicas coletando resíduos descartáveis, cuja renda obtida não permite ascensão na estratificação socioeconômica. A colaboração que dão ao meio ambiente também parece não ter a menor importância.
No fim da caminhada, a alegria e a tristeza se misturaram entre os caminhantes. Embora o país se sobressaia como um dos gigantes mundiais na produção de alimentos, a fome é uma chaga vergonhosa. Os benefícios do desenvolvimento econômico não alcançam todos. A desnutrição vem diminuindo no país, mas não deveria existir, assim como a falta de moradias e as dificuldades de acesso aos serviços públicos, como saúde, educação, moradia, emprego e tantos outros indispensáveis ao exercício da cidadania. O DF tem meios para acabar com as desigualdades e se tornar uma vitrine de exemplos para o restante do país.