Por Zelinda Lucca
O choque, o susto do inesperado e a tristeza sem fim que sentimos com a falta física e repentina daquele que amamos, deixam-nos sem chão!
Aquele plano de vida, pensado durante anos, de repente não existe mais.
Nos primeiros dias do luto, confesso que fiquei meio revoltada com Deus e ainda estou buscando entender a Sua Vontade. Mesmo sendo muito bem acolhida por familiares e amigos, conquistados ao longo da vida, não parava de pensar se fiz alguma coisa para merecer o que aconteceu. Não me sentia receptiva para aceitar o que, para mim, era uma cruel realidade. Uma perda nos deixa vulneráveis, fragilizados, com a sensação de impotência. Na minha experiência, observo que se deixarmos o desespero tomar conta, a vontade de seguir em frente se enfraquece.
Tenho procurado mitigar os pensamentos de raiva e negação. A mudança, assim como a adaptação, são leis da vida – expressões da Vontade de Deus, que nos fez fortes, sensíveis e inteligentes, capazes de viver uma nova realidade, sem persistir para sempre no sofrimento.
As lembranças do que vivi com a pessoa a quem não posso mais ver todos os dias fazem brotar em mim a gratidão e a esperança de dias melhores. Sei que a perda física não me impede de sentir sua presença viva no meu dia a dia! A recordação dos momentos felizes faz-me sentir mais próxima espiritualmente e um pouco mais consolada. Sinto gratidão por ter sido escolhida e amada. Sou grata pela oportunidade de ter convivido com alguém tão especial!
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Para mim, recordar um bem recebido é o reconhecimento de uma lei a lei de gratidão, que ensina a render uma justa homenagem a quem tornou mais feliz a minha vida.
O exercício de recordar tem transformado os piores pensamentos em sentimentos de agradecimento pelo bem que recebi. Vou juntando cada porção de bem recordado e, aos poucos, abrindo espaço para um pouco mais de felicidade na minha mente e no meu coração.
Elevar o meu pensamento a quem me fez tanto bem faz com que eu experimente paz e serenidade, suavizando a saudade física tão sentida. Valorizar cada instante vivido com quem iluminou os meus dias tem preenchido o vazio da sensação de estar perdida, sem saber que direção seguir. Entendo o sentimento de gratidão como um ganho universal, capaz de amenizar as perdas tristes e difíceis.
Sei que não se vive apenas de felicidade. Procuro pensar que as perdas também podem ser generosas em ganhos — se soubermos aproveitar o golpe das adversidades para nos fortalecer.
Tenho esforçado-me para não me sentir castigada, mas sim aprender com todas as experiências, pois acredito que tudo o que acontece faz-nos experimentar a valiosa oportunidade de viver.
A Lei do Tempo fez-me compreender que não devo resistir à possibilidade de traçar um novo plano de vida. É o que tenho procurado realizar.
Tenho aprendido que a luta é lei da vida, devendo ser enfrentada uma e mil vezes, não com insegurança, mas com plena consciência de que é inevitável.
Entre perdas e ganhos, vou conseguindo fortalecer o meu mundo interno a cada dia. Mesmo que não seja fácil reencontrar a alegria de viver, tem sido assim: um dia de cada vez.