Celina Leão — Vice-governadora do Distrito Federal
Janeiro é o mês dos recomeços, dos planos e das promessas. No entanto, entre tantas metas traçadas, um aspecto vital costuma ser esquecido: a saúde mental. No Brasil, o Janeiro Branco surge como um movimento de conscientização que nos convida a olhar para dentro, refletir e priorizar o cuidado com nossa mente, especialmente em um mundo cada vez mais caótico e veloz.
A vida moderna nos empurra para a pressa. A tecnologia, apesar de suas maravilhas, nos mantém em constante estado de alerta. Estamos sempre conectados, sempre disponíveis, como se houvesse uma corrida invisível que nunca podemos perder. Mas o que estamos realmente ganhando ao viver nesse ritmo?
A ansiedade, uma das marcas do nosso tempo, é o reflexo de um desequilíbrio coletivo. Ela cresce silenciosamente, alimentada por prazos apertados, notificações incessantes e a necessidade de "estar à altura". Entretanto, cuidar da saúde mental não é um luxo ou algo opcional. É uma questão de sobrevivência, de qualidade de vida, de humanidade.
Nós também nunca tivemos tanto acesso a entretenimento e lazer. O problema é que grande parte tem relação direta com as telas. O que se confirma com o crescente número de atendimentos realizados pela rede pública de saúde do Distrito Federal relacionados a questões que envolvem saúde mental. Pensando nisso, estamos criando a Subsecretaria de Saúde Mental, dentro da estrutura da Secretaria de Saúde. A formalização da pasta ocorrerá nos próximos dias.
Precisamos ter um olhar atento para questões que atingem tantas pessoas e que ainda são vistas, muitas vezes, sem a compreensão necessária. Essa falta de entendimento acaba fazendo com que muitas pessoas deixem de buscar auxílio e orientação profissional, prolongando o próprio sofrimento e o das pessoas próximas. Atualmente, contamos com atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). A criação de uma subsecretaria específica irá reforçar e ampliar os atendimentos, nos ajudando a melhorar a vida de todos que precisam desse cuidado.
O Janeiro Branco nos lembra que saúde mental vai além da ausência de doenças. É ter tempo para descansar, refletir, sentir e ser. É reconhecer nossos limites e respeitá-los. Em um mundo que valoriza tanto a produtividade, desacelerar pode parecer um ato de rebeldia. Mas é, sobretudo, um ato de coragem.
Refletir sobre saúde mental é também falar sobre nossas relações. Como nos conectamos com os outros? Estamos realmente presentes ou apenas reagimos no piloto automático? Precisamos resgatar momentos de silêncio, contemplação e escuta, tanto para o próximo quanto para nós mesmos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é a sensação de bem-estar vivenciada pelos indivíduos, de modo a desenvolver suas habilidades para conseguir lidar com os desafios que se apresentam e contribuir com a comunidade. É o resultado de fatores biológicos, psicológicos e ambientais. O que reforça a importância de iniciativas conjuntas, pensadas para levar saúde integral para a população. Mas também é preciso adotar hábitos de vida mais saudáveis.
Como gestores, ressaltamos o papel fundamental do esporte para uma vida melhor em todos os sentidos. A prática de atividades físicas impacta positivamente no funcionamento e na regulação do nosso organismo, que reflete diretamente em nossa saúde mental. Por isso, investimos na ampliação do acesso ao esporte para toda a população do DF.
Quando fui secretária de Esportes, lançamos a reconstrução dos campos sintéticos e a entrega de kits esportivos para garantir o acesso de crianças e adolescentes em situação mais vulnerável. Ver a continuidade desse trabalho e a alegria das pessoas que utilizam esses espaços nos mostram que estamos no caminho certo.
Como indivíduos, pequenas mudanças podem fazer grandes diferenças: desconectar-se das telas por um tempo, praticar exercícios físicos, buscar apoio profissional quando necessário e, acima de tudo, acolher nossas vulnerabilidades.
O mundo nunca deixará de ser acelerado, mas podemos escolher desacelerar. O Janeiro Branco é esse lembrete valioso: sua mente importa. Em meio a tantas resoluções, que tal colocar a sua saúde mental como prioridade? Afinal, nenhum objetivo faz sentido se não estivermos bem para celebrá-lo.