Caminhar pelo Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, é como fazer uma jornada ao âmago da maldade humana, do fanatismo, do horror. Mas, também, se encontrar com histórias de resistência e de coragem e com uma força descomunal extraída sabe-se lá de onde. Estive lá há quase dois anos e fui tomado pela emoção e pela absoluta indignação. Yad Vashem foi feito em memória das 6 milhões de vítimas do extermínio judeu, mas também serve de alerta contra ideologias fascistas, extremistas e ultranacionalistas.
Yad Vashem conta a história do nazismo e do Holocausto desde a ascensão de Adolf Hitler como chefe do Terceiro Reich. De repente, o líder que ganhou o apoio das massas com a forte propaganda calcada no nacionalismo começou a perseguir, sistematicamente, os judeus dos países ocupados pela Alemanha. Uma parte do museu é dedicada ao Gueto de Varsóvia e a contar a história de judeus que tentaram se levantar contra os planos de Hitler.
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O museu foi construído de forma a chocar e a levar a uma reflexão profunda. A arquitetura, incomum, é proposital: o corredor principal do museu se estende em um declive, uma descida até o horror do nazismo. O caminho também se afunila. Salas anexas abordam temas diversos e em ordem cronológica: a ascensão de Hitler, os países invadidos pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial, o Gueto de Varsóvia, os campos de concentração e de extermínio, Auschwitz, a derrota alemã no conflito e a punição aos nazistas no Tribunal de Nuremberg.
De repente, o visitante começa a "subir" de volta à superfície e se depara com a luz, com um mirante de onde se enxerga um bosque e as colinas de Jerusalém ao fundo. É chocante se deparar com os uniformes dos prisioneiros de Auschwitz expostos; uma parte de um dos trens usados para transportar os judeus até o campo, como se fossem gado; e milhares de sapatos empilhados das pessoas que morreram na câmara de gás.
Escolhi partilhar essa experiência com o leitor porque, em 27 de janeiro, será lembrado o 80º aniversário de libertação de Auschwitz. Dez anos atrás, falei com quatro sobreviventes do campo de extermínio. As duas páginas publicadas no Correio Braziliense foram produto de algumas das entrevistas mais marcantes para mim em 28 anos de carreira. Os relatos, impressionantes, são um testemunho de destemor e de sobrevivência. Mas, principalmente, de sofrimento, de opressão e de encontros quase diários com a morte.
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Conhecer Yad Vashem e ler a respeito do Holocausto é essencial para impedir que uma história tão vergonhosa para a humanidade se repita. Também é importante para evitar que o fascismo avilte e corroa a democracia, uma das conquistas tão caras para a humanidade.
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