José Manuel Diogo*
Nessa noite de gala dourada, quando a arte parece respirar fundo e segurar o tempo pelo braço, Fernanda Torres subiu ao palco do Globo de Ouro com a leveza de quem carrega o peso da história. Lá estava ela,herdeira e criadora, continuando um legado que sua mãe, Fernanda Montenegro, começou há 25 anos. Quando ergueu o troféu – a primeira brasileira a ganhar na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama – era como se a língua portuguesa inteira subisse ao palco com ela, dizendo: "Eu também estou aqui."
O filme se chama Ainda Estou Aqui, mas, ao ouvir Fernanda, era como se a própria língua estivesse reafirmando sua presença no mundo. Não foi apenas uma vitória pessoal ou familiar, foi uma celebração do que somos capazes de dizer – e sentir – em português. As palavras de Fernanda no palco foram uma ode à resiliência: "A arte pode perdurar através da vida, mesmo em momentos difíceis."Uma frase simples, mas que carrega a força de quem sabe que a língua é também território, casa e travessia.
Ao dedicar o prêmio à mãe, Fernanda lembrou o quanto nossa cultura é feita de continuidades e rupturas. Há 25 anos, Montenegro encantava o mundo com Central do Brasil, e hoje sua filha reafirma que o Brasil– e a língua portuguesa – ainda têm muito a dizer. Não é só um idioma; é uma maneira de ocupar o mundo, de olhar para ele e, mais importante, de contar as histórias que vivem dentro de nós.
O português é uma língua cheia de esquinas e surpresas, perfeita para se perder e se encontrar. E naquele palco, sob os holofotes do Globo de Ouro, Fernanda Torres fez mais do que vencer. Ela lembrou ao mundo que a língua portuguesa é feita de matizes e camadas, de vozes e silêncios, e que tem força suficiente para atravessar mares e chegar a palcos onde antes talvez fosse inimaginável.
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Mas há mais por trás desse brilho. A língua portuguesa não é apenas um tesouro cultural; é também um motor econômico poderoso. São quase 300 milhões de falantes espalhados pelo mundo, conectando continentes e mercados. Estima-se que o português movimente trilhões em negócios globais, desde literatura e audiovisual até comércio e tecnologia. Quando Fernanda Torres celebra o idioma no palco, ela também projeta valor para uma indústria cultural que cresce exponencialmente, com impacto econômico direto. O reconhecimento do português no cenário artístico global é um lembrete de que nossa língua é um ativo estratégico, não apenas para a cultura, mas para a economia.
Enquanto o mundo aplaudia, parecia que a língua sorria. Não um sorriso de conquista, mas de presença. Porque, como Fernanda, o português ainda está aqui – mais vivo, valioso e universal do que nunca. Eque alegria saber que continuará.
*José Manuel Diogo é escritor, cronista, consultor internacional e produtor cultural.
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