José Matias-Pereira — Economista, advogado, doutor em ciência política pela Universidade Complutense de Madrid e pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo. Professor e pesquisador senior do Programa de Pós-Graduação em ciências contábeis da Universidade de Brasília (UnB)
A economia e a política estão intrinsecamente ligadas, pois decisões econômicas têm implicações políticas, e decisões políticas impactam a economia. As políticas fiscais e monetárias são frequentemente moldadas pelas prioridades políticas dos governos. A economia fornece os recursos e as ferramentas para a tomada de decisões racionais, enquanto a política determina as prioridades e as estratégias para a alocação desses recursos.
Quando os governantes atuam de forma irresponsável, em geral, motivados por ideologia, populismo econômico ou má gestão (incompetência), essas duas dimensões — política fiscal e política monetária — entram em desequilíbrio, provocando prejuízos no funcionamento da economia e afetando as empresas e o bem-estar das pessoas. Os efeitos desses desajustes refletem no campo da política.
Nas democracias parlamentaristas, diante da gravidade da crise, o primeiro-ministro tende a cair, e o país avança para novas eleições. Nas democracias presidencialistas, em última instância, desaguam no afastamento do presidente, assumindo o vice-presidente. O Brasil vivenciou esse cenário de desequilíbrio que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 31 de agosto de 2016.
Feitas essas considerações, formula-se a seguinte pergunta: O Brasil avança para vivenciar uma "tempestade perfeita" na economia e na política em 2025? Para respondê-la, torna-se relevante avaliar o cenário econômico e político nos âmbitos internacional e nacional. Constata-se, no plano internacional, uma profunda desorganização do sistema econômico e político mundial em decorrência dos conflitos latentes nesses campos entre a China e os EUA e dos efeitos das medidas de isolamento da Rússia em decorrência da invasão da Ucrânia, notadamente, pelos EUA e países da União Europeia. Esse cenário se agravou em 2024 com a eclosão dos conflitos no Oriente Médio, entre Israel e o Hamas (Palestina), no qual se envolveram os países que apoiam os grupos terroristas existentes naquela região, com destaque para o Irã.
Vislumbra-se que, neste ano de 2025, com base nas medidas tarifárias delineadas na plataforma eleitoral do presidente eleito dos EUA Donald Trump, o mundo avance para um cenário de "guerra" tarifária no comércio mundial. É oportuno destacar que o nível de impacto dessas medidas econômicas e políticas irá variar em função das realidades econômicas e políticas de cada país e da profundidade das medidas de retaliações adotadas pelo governo norte-americano. A aproximação do governo brasileiro com o eixo de países governados por ditadores, que se opõem aos EUA, poderá colocar o Brasil na lista dos países que irão sofrer fortes retaliações tarifárias.
O pessimismo sobre a trajetória da economia brasileira, percebida por grande parcela da população nas pesquisas de opinião (em especial, pela elevação da inflação), também aumentou de forma acentuada por parte do mercado em decorrência de decisões dúbias por parte do governo, em especial sobre a falta de vontade política do governo de reduzir as despesas e controlar o crescimento da dívida pública. Nesse sentido, as críticas e desconfianças com a consistência da política econômica do governo Lula tem como foco central o crescimento acelerado da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), calculada pelo Banco Central, ressaltando que esse indicador de endividamento é o mais utilizado pelos economistas e analistas para avaliação da sustentabilidade das contas públicas.
A determinação de elevar os gastos de forma descontrolada exigiu que o governo aumentasse as receitas, o que fomentou o crescimento da arrecadação de 4% em 2023 a 12% até outubro de 2024. As despesas cresceram 12% em 2023, e 10% em 2024. A DBGG passou de 71,7% do PIB em dezembro de 2022 para 74,4% em dezembro de 2023 (R$ 8,079 trilhões). Em 2024, estima-se que deverá alcançar 80%, o equivalente a R$ 9,1 trilhões. A estimativa para a DBGG em 2025 é de 82,2% do PIB, e de 84,1% do PIB em 2026.
Recorde-se que, em substituição ao teto de gastos, o governo Lula formulou um novo arcabouço fiscal que permite que as despesas cresçam junto da arrecadação de impostos. O aumento elevado de receita, no entanto, foi acompanhado pelo crescimento significativo de despesas. Assim, o arcabouço foi perdendo credibilidade junto ao mercado com a mudança das metas de resultado das contas públicas para os anos seguintes. É oportuno recordar que, em abril de 2024, quando o FMI projetou o Brasil fechando o ano como a oitava maior economia, o dólar estava cotado a R$ 5,18. No final do mesmo ano, a moeda fechou a R$ 6,44. Estima-se que o PIB do Brasil em 2024 deverá alcançar US$ 2,27 trilhões. Caso a desvalorização do real frente ao dólar continue aumentando, o Brasil está ameaçado de perder a sua posição entre as 10 maiores economias mundiais em 2025.
Diante desse cenário de incertezas, pode-se argumentar que o descontrole das contas públicas e a perda de autonomia do Banco Central fomentarão a formação, no médio prazo, de uma tempestade perfeita que irá se abater sobre a economia brasileira, tendo como fator impulsionador a dominância fiscal. Pode-se afirmar, por fim, apoiado na estreita relação que existe entre economia e política, que o desempenho da economia será fator decisivo — num contexto em que esteja prevalecendo a democracia e a transparência no sistema eleitoral — para a escolha do próximo presidente da República, nas eleições de outubro de 2026.