Opinião

Visão do Correio: Desaceleração deve ser meta para 2025

Para 2025, precisamos pensar em interromper o já viciado girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro do razoável, que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos diariamente inseridos

Mensagens privadas e injúria racial: entenda o limite entre a privacidade e o crime
 -  (crédito: Reprodução/Freepik)
Mensagens privadas e injúria racial: entenda o limite entre a privacidade e o crime - (crédito: Reprodução/Freepik)

O início de ano sempre é tempo de traçar metas em busca de uma condição de vida melhor. Entre os planos almejados, muitos de nós pensam em um emprego melhor, em ascensão financeira para ampliar o consumo ou no tão sonhado diploma para exercer uma determinada profissão. Nossos objetivos sempre giram em torno do dinheiro, numa eterna busca de maior poder de compra em prol da aquisição de objetos de última geração, roupas, carros, imóveis, entre outras coisas.

No nosso planejamento de início de ano, são raros os objetivos que mencionam o descanso. Em um mundo no qual vivemos o tempo inteiro com o pé mais pesado possível no acelerador e a corrida do ponteiro do relógio parece ser cada vez mais rápida, não pensamos jamais em diminuir a carga de trabalho e aproveitar as coisas que realmente importam em nossas vidas: a família, os hobbies (sejam eles quais forem) e a melhoria da qualidade de vida, a partir de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e a leitura de bons livros.

O tempo passa a milhão, e a vida da maior parte das pessoas acaba sem que elas se deem conta disso. Perdemos horas no trânsito e no necessário ganha-pão — tarefas que a imensa maioria não tem escolha diante das necessidades financeiras —, mas, quando temos tempo livre, recorremos ao mundo dos smartphones, que muito oferece em informação, mas pouco oferece em qualidade de vida.

A cada ano eleitoral que se passa, como o último, temos a sensação de que nada mudará, independentemente do voto a qual recorremos nas urnas. Cobramos mudanças dos nossos representantes o tempo inteiro, mas não olhamos para nossas próprias vidas. Estamos viciados no tédio e na continuidade. Procuramos sempre o cotidiano. Nunca realizamos sonhos. Corremos poucos riscos. Queremos controlar cada passo que damos e mergulhamos na mesmice.

Para 2025, precisamos pensar em interromper o já viciado girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro do razoável, que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos diariamente inseridos. Pequenos ajustes na rotina ajudam, como evitar o uso do smartphone ao chegar em casa e reencontrar os familiares. Aqueles que nos amam são infinitamente mais importantes do que a última atualização do feed do Instagram.

Uma pesquisa encomendada pela NordVPN, um provedor de Rede Virtual Privada, informou em outubro que 96% dos brasileiros levam o celular ou outros dispositivos móveis para a cama. Esse dado coloca o país em segundo lugar entre os 17 analisados. A imensa maioria desses brasileiros, inclusive, usa mais de um dispositivo simultaneamente no aguardado período de descanso, como assistir à TV de olho no celular.

O dado deveria assustar, mas parece fazer completo sentido quando olhamos para a nossa própria rotina. São comportamentos que acompanham uma série de transtornos mentais íntimos da nossa contemporaneidade, como a ansiedade, a depressão e a hiperatividade. É um problema mais sério do que parece e que, infelizmente, continua pouco discutido em nossa sociedade.

O vício tem até nome: a nomofobia, quando sofremos dependência dos dispositivos móveis. A enfermidade, inclusive, integra a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), registro feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e atualizado periodicamente. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG, em 2023, apontou que 72% dos estudos que acompanharam crianças constataram um aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas nesse grupo — uma dependência que também atinge adolescentes, adultos e idosos e que disparou após a pandemia da covid-19.

 

Correio Braziliense
postado em 01/01/2025 06:00
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