Opinião

Visão do Correio: Os avanços e os percalços de 2024

Quando se olha para o que foi feito, na prática, pelo poder público neste ano para diminuir as mazelas sociais, o Brasil alcançou avanços significativos

O período de festas costuma ser acompanhado por uma maior sensibilidade da população brasileira às mazelas que circundam a sociedade. Junto ao espírito natalino, vêm a solidariedade e um cada vez mais raro sentimento de justiça social. É comum que familiares, amigos e empresas façam campanhas coletivas para doação de roupas e alimentos com intuito de ajudar o próximo. 

Quando se olha para o que foi feito, na prática, pelo poder público neste ano para diminuir as mazelas sociais, o Brasil alcançou avanços significativos. O mais recente relatório das Nações Unidas aponta para uma queda de 85% na insegurança alimentar severa no país — na esteira da criação de um ministério dedicado somente à área.

Em entrevista recente, o ministro da pasta, Wellington Dias, creditou o fenômeno à criação do Plano Brasil sem Fome, instituído a partir de um decreto do presidente Lula assinado em agosto de 2023. O objetivo da política pública segue uma das frases mais compartilhadas pelo Planalto na atual gestão: "Colocar o pobre no Orçamento". 

O Brasil figurou no mapa da fome da ONU desde 2019, após deixar a vergonhosa classificação em 2014. O retorno a tal condição veio como consequência dos problemas econômicos causados pela pandemia da covid-19 e por decisões tomadas em gestões anteriores que fragilizaram políticas públicas importantes, como a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), braço do Executivo para executar medidas relacionadas ao combate à pobreza. Fazer com que 14,7 milhões de pessoas deixem de passar fome, portanto, é um grande avanço. 

E não é o único. O trimestre fechado em outubro aponta para a menor taxa de desemprego no país desde 2014: 6,4%. Esse dado, porém, precisa ser visto com cautela, diante do alto número de empregados em posições pouco atrativas, com salários ruins e quase sem direitos trabalhistas, sobretudo os trabalhadores e trabalhadoras dos aplicativos de transporte privado e entrega de comidas e objetos. 

Outra boa notícia é a inflação acumulada de 4,87% nos últimos 12 meses, índice que chegou a ter dígitos duplos na reta final de 2022, quando a população ficou sufocada com a alta da cotação dos combustíveis — sobretudo, o diesel, que eleva o preço dos alimentos por conta da logística sobre rodas.

A preocupação, por outro lado, fica por conta da elevada taxa de juros, puxada pela incerteza do mercado financeiro quanto à eficácia do pacote de corte de gastos enviado pelo governo ao Congresso — uma alternativa para conter a dívida pública. A alta da Selic, hoje em 12,25%, onera principalmente  os mais pobres, que recorrem ao parcelamento para não sufocar ainda mais o orçamento mensal. Deixa também os juros do cartão de crédito mais pesados — condição propícia para o endividamento e a inadimplência.

O período de festas é usado, muitas vezes, para comemorar conquistas alcançadas durante o ano. Mas também é tempo para planejar o futuro, de olho em um 2025 melhor. O planejamento individual e das famílias também recai sobre o governo, que terá, no ano que vem, o desafio de tentar melhorar sua relação com o Congresso, com o mercado e com sua comunicação institucional, pontos criticados por muitos durante a primeira metade da gestão Lula 3.

 

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