Opinião

Um ano de boas conversas

Se tem uma coisa que podemos celebrar por aqui, é a oportunidade de ter boas conversas. Escutar quem estuda, pesquisa e propõe ideias que podem salvar e mudar realidades

Adoro boas conversas e costumo me demorar nelas. Com minhas fontes, sobretudo. Não se trata apenas de perpetuar o relacionamento tão relevante para o bom jornalismo. É uma oportunidade de ouvir pessoas interessantes, inteligentes, influentes e, sobretudo, muito bem-informadas. Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal, é dessas pessoas a quem recorremos sempre para aprofundar nossas coberturas, em especial relativas a aspectos econômicos de Brasília.

Nesta semana, ele esteve nos estúdios do CB Poder, nosso programa em parceria com a TV Brasília, para falar sobre a conquista do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) e as constantes ameaças a ele. Mas a conversa também evoluiu para um lado que casou bonito com uma ideia que martelava na minha cabeça. Falar de esperança, mas de uma forma mais propositiva. O tal esperançar. Deixar as reclamações de lado e pensar em soluções simples mesmo que os problemas sejam complexos. "E vai adiantar?", vocês podem me indagar.

Eu digo que é melhor do que o queixume eterno, que não movimenta nada, nem mesmo nossas próprias estruturas. Soluções muito grandiosas frequentemente param no tempo, perdidas na burocracia, na falta de agilidade do poder público, nas mudanças de governo. Everardo trouxe uma lista com anotações. Sugeriu, por exemplo, desconto no IPTU a quem preservar o meio ambiente; instituir o serviço de coleta de frutas em áreas públicas, criando emprego e enriquecendo a cesta alimentar do brasiliense mais vulnerável; criar um site para um banco de ideias, entre outras. 

Para Everardo, premiar as boas práticas dos cidadãos, criando benefícios tributários, poderia dar excelentes resultados. Quantas ideias mais cada um de nós teria? E por que os governos não pensam de forma criativa em soluções que envolvam a população, descentralizando alguns serviços para prefeituras de quadra, por exemplo? 

Estamos aguardando propostas salvadoras do mundo, em vez de promover transformações profundas que começam pequenas. Não se enganem: a passos de formiga, podemos construir estruturas incrivelmente robustas. 

Neste ano, trouxemos muitas fontes incríveis para dar sugestões e aprofundar a discussão de temas relevantes. Outro programa, o CB Agro, também parceria com a TV Brasília, ouviu recentemente Daniela Bittencourt, pesquisadora da Embrapa e secretária executiva do Comitê Permanente de Assessoramento de Pesquisa em Cannabis. Ela apresentou um estudo com 50 recomendações para ampliar os benefícios sociais e econômicos com o cultivo da cannabis medicinal. Mas é necessário ter vontade política para fazer a pesquisa andar no Brasil. Ou seja, falta o passo inicial para eliminar entraves. Nada que boas conversas não pudessem resolver. 

Mais um ano está acabando e, se tem uma coisa que podemos celebrar por aqui, é a oportunidade de ter boas conversas. Escutar quem estuda, pesquisa e propõe ideias que podem salvar e mudar realidades, como o próprio Everardo idealizou no passado o FCDF, que tirou Brasília da condição de pedinte mensal, sempre de pires na mão, mendigando recursos do governo federal. Neste Natal, desejo ter mais conversas propositivas, ouvir mais gente entusiasmada e menos gente que só reclama. Desejo também boas festas para você que me acompanhou todo o ano neste espaço de opinião. É um prazer trocar ideias por aqui! 

 

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