Rafael Parente*, Israel Batista**
Nos últimos meses, temos pesquisado sobre inteligência artificial (IA) e seus impactos em nossas vidas. Um podcast intrigante questionou: a IA pode nos auxiliar a nos tornarmos melhores? Afinal, ela já está presente em nosso cotidiano, recomendando filmes e nos guiando no trânsito. E se pudéssemos ir além? Se, em vez de apenas nos entreter, a IA nos guiasse para uma vida mais plena?
Imagine uma IA que, no lugar de nos explorar comercialmente, nos ajude a crescer como indivíduos e sociedade. Essa é a premissa da IA "humanista", que ganha força entre pesquisadores e entusiastas da tecnologia. Atualmente, a maioria das IAs visa maximizar o engajamento e os lucros das empresas. Contudo, há um movimento crescente em direção a uma IA mais colaborativa. Jogos que promovem comportamentos pró-sociais e redes sociais com algoritmos que priorizam conexões significativas são exemplos disso.
Tecnologias existentes podem ser ressignificadas. Câmeras dos smartphones, aliadas à IA, poderiam detectar sinais de estresse e oferecer sugestões para melhorar nossa saúde mental. Aplicativos já usam IA para analisar padrões de sono e hábitos alimentares. No entanto, há desafios éticos, como a garantia da privacidade dos dados e o cuidado com o acesso a essas informações.
Nesse contexto, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil, inspirada no GDPR da União Europeia, desponta como um marco regulatório importante para garantir a privacidade e o uso responsável de dados. A recente aprovação, pelo Senado Federal, do projeto de lei que visa regulamentar a inteligência artificial no país demonstra a crescente atenção do poder público para essa área.
Uma grande promessa da IA é seu potencial como extensão das nossas capacidades cognitivas. Assistentes inteligentes podem nos ajudar a melhorar nossa memória, potencializar nosso aprendizado e estimular a nossa criatividade. A ideia não é que a IA substitua nossas habilidades, mas que atue como uma parceira, complementando-as. É o conceito de "inteligência aumentada".
Ao mesmo tempo, é fundamental ponderar os riscos. A delegação excessiva de tarefas à IA pode nos tornar menos capazes e mais preguiçosos? Como manter um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e as experiências do mundo real? Ao abraçarmos o potencial da IA, não podemos perder de vista a importância das conexões humanas e das experiências tangíveis. Além disso, a IA pode aprofundar desigualdades sociais caso o acesso a ela e seus benefícios não sejam democratizados. O desenvolvimento de uma IA ética e responsável é imprescindível para evitar a ampliação de vieses existentes e garantir que essa tecnologia seja utilizada para o bem comum.
Para isso, precisamos ir além da mera aplicação da tecnologia e questionar como ela pode ser utilizada para promover valores como justiça social, igualdade e desenvolvimento sustentável. A IA tem o potencial de nos impulsionar a sermos melhores. Para isso, precisamos desenvolvê-la e utilizá-la de forma ética, com foco no desenvolvimento humano. Priorizar a transparência, manter o controle humano sobre decisões importantes, fomentar a educação sobre IA e estabelecer regulamentações que protejam os direitos individuais são diretrizes básicas.
O futuro não é sobre humanos versus máquinas, mas sobre colaboração para um mundo melhor. A IA pode ser uma ferramenta poderosa em nossa jornada de autoaperfeiçoamento, mas cabe a nós direcioná-la com sabedoria. O Conselho Nacional de Educação, assim como outras instituições reguladoras, tem a responsabilidade de estar atento à necessidade de uma regulamentação efetiva do uso da IA em educação, garantindo a privacidade e segurança dos dados e incentivando a implementação de políticas para o letramento midiático e algorítmico da população.
A IA pode nos tornar melhores como pessoas ou apenas mais eficientes? A resposta está em nossas mãos. A tendência global é de harmonizar leis para tratar a IA com mais rigor, mas mantendo espaço para inovação. No Brasil, a LGPD já nos coloca em posição de destaque nesse cenário, demonstrando que estamos no caminho certo para um futuro promissor e ético com a IA, mas ainda há muito a ser feito. Cabe a cada um de nós assumirmos o papel de protagonistas nesse processo, seja por meio da educação, do debate público ou da ação política. Precisamos construir um futuro onde a IA seja uma força para o bem.
PhD em educação pela Universidade de Nova York (NYU), diretor executivo do Instituto Salto, foi secretário de Estado da Educação do Distrito Federal*
Conselheiro Nacional de Educação e relator da Comissão para Utilização da Inteligência Artificial na Educação Básica, foi deputado federal pelo DF e deputado distrital**
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