Adolescente agredido em uma escola em Aveiro, Portugal. Entregadores de comida perseguidos e espancados nas imediações de Dublin, na Irlanda. Mulher vítima de golpes de canivete em Massachusetts, nos Estados Unidos. Todos esses casos têm uma circunstância em comum: os alvos são brasileiros que vivem fora do país e são vítimas da xenofobia.
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O que nasce como um ideal — a busca por uma vida melhor fora do país, por exemplo — pode encontrar desafios não planejados. No caso de Aveiro, um elemento a mais compõe a cena: o racismo. O estudante brasileiro de 16 anos foi chamado de "macaco" e "preto" e, na sequência, agredido fisicamente. "Colegas" gravaram toda a atrocidade.
Na Irlanda, o modus operandi é conhecido. As emboscadas armadas, com uso até de barras de ferros, são protagonizadas por xenófobos em bairros nos arredores de Dublin, principalmente durante a noite. Grupos cercam os entregadores, que, para se proteger, fizeram um pacto: evitam atendimentos a determinados bairros irlandeses. A vítima mais recente é Alexandre Athos Pinheiro Teixeira. O goiano de 23 anos foi perseguido por um SUV enquanto entregava comidas. Levou garrafadas e foi atropelado. Sofreu uma fratura exposta na perna esquerda.
Todos os ataques têm o ódio e a crueldade como fatores primordiais. Os xenófobos culpam os imigrantes pela redução das vagas de emprego e pelo aumento da população local, o que, acreditam, eleva o preço dos aluguéis devido ao aumento da demanda e do custo de vida em geral.
Quem procura razões para tamanha violência ignora, no entanto, a maneira como se construiu a riqueza do Norte Global. A maior parte das famílias ricas europeias conquistou a ascensão social a partir do colonialismo, que, no Brasil, deixa feridas nunca superadas do ponto de vista econômico e social a partir, principalmente, da escravidão. Mas não só dela.
Em seu livro As veias abertas da América Latina, um clássico da literatura socioeconômica sobre a história do continente, o jornalista uruguaio Eduardo Galeano afirma, com outras palavras, que o cidadão nascido nas Américas perdeu o direito até de se chamar como "americano", gentílico hoje usado para se referir somente aos estadunidenses.
Na obra, o escritor narra, historicamente, como aconteceu o desmonte imperialista no continente. Entre outras histórias, cita o caso de Potosí, cidade boliviana que chegou a ser uma das mais ricas do mundo a partir de jazidas de prata da montanha de Cerro Rico, posteriormente esgotadas pela exploração espanhola — uma história que se estende aos demais países latinos e também à África.
Diante de tais constatações e por sua atenção sempre muito dedicada à agenda diplomática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o dever de zelar pelos brasileiros vítimas da xenofobia. Se, evidentemente, é impossível frear 100% dos casos de violência, o Itamaraty deve prestar suporte aos brasileiros agredidos. A intermediação internacional não consegue fazer milagres, mas pode, ao menos, se mostrar preocupada com quem sofre tais injustiças.