Opinião

Azar no jogo e no amor

As apostas on-line são vendidas como uma forma simples de lazer, com a promessa de dinheiro fácil e diversão

Dez anos atrás, Diego entrou em um programa de televisão — um grande jogo que valia um milhão e meio de reais. Não levou a bolada, mas o azar no jogo se converteu em sorte no amor: ele conheceu Francielly, a mulher que se tornaria sua esposa e mãe de seu filho. Agora, por causa de outro jogo, no qual ele continuou a ter azar, a sorte no amor também se foi. Em declaração recente, o ex-participante do Big Brother Brasil admitiu seu vício em apostas on-line, uma dependência que o levou a perder todo o dinheiro e a família. Sua declaração escancara um problema que cresce exponencialmente no Brasil e transcende o prejuízo financeiro, afetando lares, relacionamentos e a saúde mental, enquanto encontra no marketing digital e nas figuras públicas um terreno fértil para se propagar.

As apostas on-line são vendidas como uma forma simples de lazer, com a promessa de dinheiro fácil e diversão. E o que começa como passatempo pode se transformar rapidamente em compulsão, levando a perdas significativas. Isso ocorre porque as plataformas utilizam algoritmos projetados para estimular o cérebro com pequenas vitórias, criando um ciclo vicioso que combina excitação e frustração.

Pesquisas indicam que esse tipo de vício ativa as mesmas áreas cerebrais que a dependência química. A sensação de "quase ganhar" é um gatilho psicológico poderoso, que mantém os jogadores presos em um loop interminável de tentativas e perdas. E o custo não é apenas financeiro. Relatos como o de Diego Grossi mostram como a prática pode corroer relações familiares, aumentar níveis de ansiedade e depressão e, em casos extremos, levar ao isolamento social.

As apostas on-line no Brasil são um mercado que movimenta bilhões anualmente e seu crescimento deu-se em parte devido à ausência de regulamentação robusta. Apesar de recentes esforços do governo para regularizar e tributar esse setor, as medidas ainda são tímidas diante da dimensão do problema. As campanhas de conscientização sobre os perigos do jogo são insuficientes. Enquanto alguns países, como o Reino Unido, possuem legislações rigorosas para restringir propagandas de apostas, o Brasil ainda dá espaço para a proliferação de anúncios que glamourizam o jogo.

E um agravante nesse cenário é o envolvimento de figuras públicas e influenciadores digitais na promoção das plataformas de apostas. Celebridades emprestam seu prestígio às "publis", criando uma falsa percepção de segurança e normalidade. Esse efeito de contágio alcança, especialmente, jovens e indivíduos mais suscetíveis à influência midiática.

O depoimento de Diego Grossi é um alerta. Como sociedade, é necessário desafiar a normalização das apostas como forma de lazer inofensiva. O combate ao vício em jogos de azar não é uma batalha que pode ser vencida apenas por meio de leis. É uma questão que envolve educação, conscientização e a promoção de alternativas saudáveis de entretenimento. Que o relato de "azar no jogo e no amor" sirva de alerta para uma sociedade que, frequentemente, ignora os riscos em nome do lucro e do prazer momentâneo. O verdadeiro custo das apostas não é apenas financeiro, mas humano.

 

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