Opinião

Estamos aqui na torcida

Eu fico com minha torcida de que o filme Ainda estou aqui traga prêmios, reconhecimento e amplitude para esta chaga brasileira. A memória dos tempos sombrios merece estar presente.

Daqui a dois dias, na terça-feira, Ainda estou aqui, filme dirigido por Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello e baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, pode andar mais uma casinha em direção a uma vaga entre os finalistas de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2025. Nesta data, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anuncia os 15 pré-selecionados na categoria. A próxima e última triagem é em 17 de janeiro, quando os cinco finalistas são formalmente indicados à estatueta. 

Já falei aqui o quanto assistir a esse filme foi impactante, certamente não apenas pra mim. Mais de 2,5 milhões de espectadores foram ao cinema para ver uma obra-prima brasileira, ambientada no período mais fúnebre brasileiro, quando a nossa democracia estava nas mãos de militares que, em nome de uma suposta ordem, sequestraram, torturaram e mataram cidadãos brasileiros que não aceitavam placidamente o regime ditatorial. 

É lindo ver um filme com essa temática, baseado em fatos reais, narrando a história a partir de um ponto de vista de uma mulher, Eunice Paiva, ganhar o Brasil e o mundo, como tem acontecido nesta campanha pré-Oscar, aplaudido e celebrado nos festivais mundo afora. É lindo ver Fernanda também ser indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz 25 anos após sua mãe, Fernanda Montenegro, nos honrar com tal título por Central do Brasil.   

É claro que existem concorrentes de peso, algo que os críticos e jornalistas especializados têm apontado. Aqui e ali, surgem críticas de que existe um ufanismo exagerado ou um viés elitista. Mas não há como deixar de ter um imenso orgulho pela trajetória do filme. O cinema e a arte têm mesmo essa magia, a de transformar uma história que nos envergonha em uma obra que nos orgulha, sem inundar o tema com pieguices. 

O filme tem o poder de amplificar os acontecimentos de um período que muitos teimam em questionar, negar, esquecer. Trazer à tona essa lembrança sempre será importante, especialmente em tempos tão obscuros e polarizados, em que um regime de exceção ainda é visto como uma possibilidade pelos ignorantes. Até as críticas são bem-vindas, pois contribuem para o debate, algo que parece ser visto hoje como um problema — e não é.

Eu fico com minha torcida de que o filme traga prêmios, reconhecimento e amplitude para essa chaga brasileira. A memória dos tempos sombrios merece estar presente. Que os olhos argutos dos cineastas estejam atentos para outros ataques aos direitos humanos, hoje, agora, no presente. Talvez a arte traga holofotes para o que precisa ser visto no Brasil de forma urgente. Como sempre digo, não há espaço para retroceder.  

 

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