Opinião

Artigo: Trump, inteligência artificial e os novos tempos

Queremos que a inteligência artificial leve os estudantes a produzir boas perguntas, em lugar das criticáveis respostas prontas

Arnaldo Niskier*

Nem todos acreditam, mas é verdade que a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas pode ser em parte devida à existência da inteligência artificial (IA). A sua volta ao poder veio com promessas de frear a regulação da IA, conforme  apoio no Vale do Silício, como demonstram as manifestações de Elon Musk. Limites éticos e de segurança à IA estabelecidos pelo presidente Biden serão cancelados por Trump — e isso agradou parte da população da maior economia do mundo.

Tudo integra as competições comercial e tecnológica com a China, apesar de concordarem com temas como semicondutores e GPUs. Trump condena a influência global da China, o que é uma realidade. Menos regulação e impostos foram decisivos em sua campanha, valendo destacar, nesse momento, o papel exercido pelo vice-presidente eleito J.D. Vance, defensor das chamadas práticas justas, o que significa acompanhar de perto todo esse processo de concorrência. Trump fala em impor mais barreiras comerciais a importados, como aumento de tarifas sobre manufaturados chineses, o que provocará alta nos custos do setor.

 Passando a outro tema, o das apostas esportivas, numa toada crescente a IA será utilizada para garantir a sua integridade. Esse incrível movimento prevê, inclusive, o reconhecimento facial para impedir menores de idade de apostar nas plataformas. Nova regulamentação entrará em vigor  no país em 1º de janeiro próximo, quando as operadoras passarão a recolher impostos. Só a IBIA, organização internacional sem fins lucrativos que atua em parceria com órgãos esportivos, inclusive clubes de futebol, monitora mais de US$ 300 bilhões por ano em apostas realizadas em mais de 125 marcas. A Fifa está nessa jogada, assim como o Comitê Olímpico Internacional. 

Não há dúvida de que será a garantia de novos tempos, mas é preciso que isso se faça com fortes regras, garantindo a integridade do esporte. Nesse caso, questões como a do craque Bruno Henrique, do Flamengo, que teria manipulado a sua expulsão de um jogo, precisam ser evitadas. As varreduras inevitáveis garantirão a necessária confiabilidade, como também num caso anterior envolvendo o atleta Lucas Paquetá. Precisão deve acompanhar tudo isso.

Em nossas escolas, sobretudo as do ensino médio, registra-se hoje uma análise crítica do que é a IA e o que deve ser feito para a sua utilização com proveito pelo sistema. Surgem discussões éticas. Deseja-se estimular os nossos estudantes para serem líderes inovadores, no mundo digital que se avizinha.

Muitas escolas se preparam para as aulas de educação digital, que incluem privacidade e viés algorítmico. Mas algumas já iniciaram a adesão ao processo, com a correção de redações e na criação de planos de estudos personalizados. Não quiseram esperar pelo ano de 2025. A tutoria on-line já é uma realidade. Sobre a correção de redações, o tempo de 17 minutos de um professor virou três minutos com o uso da tecnologia, o que, sem dúvidas, é um ganho significativo.

Queremos que a IA leve os estudantes a produzir boas perguntas, em lugar das criticáveis respostas prontas. Assim, eles  poderão ter um melhor preparo para o Enem. Partindo do princípio de que vamos enfrentar um futuro digitalizado, a IA pode promover um bom e adequado sistema de preparação, integrando a tecnologia ao cotidiano escolar. Poderá vir a ser um poderoso auxiliar nas tarefas do aprendizado, que está sendo cada vez mais personalizado. A IA faz com que cada aluno possa aprender no próprio ritmo. E otimiza o tempo dos professores.

Particularmente, temos admiração por essa ferramenta pelo muito que ela pode ajudar na inclusão de alunos com necessidades especiais. Assim, se promove a equidade no ambiente escolar. Temos softwares de reconhecimento de fala e leitores de tela, para estudantes com deficiência visual. Existe hoje a possibilidade, independentemente da deficiência assinalada, de adaptação ao ritmo e ao estilo de aprendizado de cada aluno.

Desigualdades sociais podem ser superadas, o que exige o preparo adequado do professorado. A IA pode recomendar vídeos, textos e podcasts e até sugerir exercícios adequados, tornando a aprendizagem ainda mais dinâmica e inclusiva. Devemos nos preparar para esses tempos de aperfeiçoamento das nossas escolas.

Membro da Academia Brasileira de Letras e doutor honoris causa da Universidade Santa Úrsula*

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