Algumas frases do psicanalista Christian Dunker, em entrevista a Denise Rothenburg e Mariana Niederauer para o Podcast do Correio, ficaram comigo depois de ouvi-lo. Ele já começa falando que "desconfia do nosso sonho de tranquilidade" e que "a agitação é problemática, mas a solução pra ela não são férias", para dizer que depois de poucos dias de calmaria já começamos a ser "assediados pelo vazio".
É a pura verdade. Fugimos porque o embate com o cansaço é fortíssimo, porque agora temos os tais nevoeiros mentais para dissipar, porque dezembro é um mês de infindáveis acertos de contas, em que "aparece uma espécie de passivo com a própria vida". Dezembro é de "alta periculosidade para a saúde mental" (como disse Dunker). Sofremos de dezembrite, e não é pouca coisa.
Aí corremos em direção ao resort com pensão completa, à rede da varanda, ao mato, ao mar, ao descanso do trabalho, enfim. Mas logo em seguida caímos na mesma esparrela dos dias e das noites que se sucedem numa velocidade que parece cada vez maior — tal como um dedo rolando um feed de rede social ou uma roleta girando aleatoriamente diante da nossa torcida de que pare em alguma casinha boa.
Parece que não temos mais controle de nada e, ainda que de certa forma essa seja uma verdade, temos de achar um jeito de colocar freios nos hábitos ruins para ter um dia a dia mais saudável. Hábitos apenas não; também um freio naquilo que consumimos de informação com alto potencial deprimente.
Foi notícia na semana que passou a expressão do ano, escolhida pelo Dicionário Oxford: brain rot (podridão cerebral, em português). Apesar de ser uma expressão antiga, agora tem sido associada à redução da capacidade de atenção e declínio cognitivo causado pelo uso excessivo das redes sociais e o consequente consumo de conteúdos de baixa qualidade na internet.
Que lixo andamos consumindo a ponto de apodrecer o cérebro? Podemos fazer listas e listas de conteúdos pobres e podres. Mas também podemos olhar criticamente para isso. Estamos saindo da semana em que uma moça mudou sua vida radicalmente só por se recusar a ceder a janela do avião a uma criança. Polêmicas à parte, e até advogo a favor de que virais virem notícia pelo poder do debate e do posterior aprofundamento, a verdade é que já vivemos dias melhores em matéria de aproveitamento de tempo e conteúdo.
Devemos deletar as redes? Cada um sabe de si. Talvez eu não suportasse estar à parte do mundo, seja ele qual for. E sigo me contaminando de humor e de surpresas boas que a internet me traz. Mas também de um mundo real e presencial, de outras paisagens, sons e emoções, de filmes e livros.
Este dezembro tem me testado. Eu vou ficar quatro dias imersa em um universo de sonho e magia. Um convite de trabalho no momento certo. Quem sabe não viro influencer... (risos). É pesado demais encarar a vida real a seco.