Os recentes casos de violência praticados por policiais militares em serviço em São Paulo reabrem uma importante discussão em relação a dois pontos: a utilização de câmeras corporais e o uso progressivo da força pelos agentes da segurança pública. Tratam-se de temas que ficam centrados no debate entre liberdade policial e transparência, mas que envolvem a sociedade como um todo.
Em primeiro lugar, considero que é impossível não ficar indignado com as cenas que temos visto nos últimos dias. Imagens flagraram um jovem sendo jogado por um PM de uma ponte. Dias antes, câmeras de segurança registraram um policial de folga matando com 11 tiros um homem que havia furtado produtos de limpeza em um mercadinho. E, ontem, viralizou um vídeo que mostra uma senhora de 63 anos sendo agredida por um militar que fazia o flagrante da apreensão da moto do filho dela.
O segundo ponto é que não se trata de defesa de nenhum criminoso. Mas, sim, de aumentar a confiança em relação ao trabalho desenvolvido pelas forças de segurança. Na Europa, a utilização de câmeras corporais nos policiais é uma realidade há mais de 20 anos.
O uso das chamadas bodycams faz parte do dia a dia, inclusive, de seguranças privados. Lembro-me de em 2007, numa viagem a Porto, a linda cidade costeira portuguesa, de ver o equipamento em vigilantes de um grande varejista.
Mundo afora, há o uso das câmeras corporais em categorias de servidores públicos não policiais. É o caso do Japão, em que são utilizados por maquinistas de trem e metrô, e de Hong Kong, em fiscais de atividades urbanas.
Ontem, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reconheceu que errou ao ser contrário às bodycams. Na campanha eleitoral de 2022, chegou a falar que acabaria com o programa.
Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico. As câmeras estão por todos os lados. Um verdadeiro big brother. Por isso, a colocação de bodycams nos policiais, agentes de trânsito e afins nada mais se trata do que uma adequação aos novos tempos. Mesmo com a existência da influente bancada da bala, seria hora de o Congresso trazer para si a discussão e adotar a obrigatoriedade corporal delas na atividade policial em nível nacional.
Li recentemente Oficiais do crime (editora Matrix), do sargento Silva com o jornalista Sérgio Ramalho. É um relato sobre como funciona a corrupção estrutural e sistêmica na elite da PM do Rio. Um dos pontos revelados é o policiamento hi-tech: "Usam o WhatsApp para enganar a população. (...) Tiram lindas fotos e postam nas redes sociais institucionais, mas essas imagens não passam de mero teatro. Muitas das operações não são reais". Tenho certeza que as câmeras corporais mostrariam a realidade. Não é?