Opinião

Maestro soberano

O espetáculo Tom Jobim musical consegue captar a alma de quem, para muitos, é o artista de maior relevância da música popular brasileira

Em estada recente no Rio de Janeiro, pude perceber nos ambientes artísticos, bares, restaurantes e até mesmo na praia que um dos assuntos recorrentes dos bate-papos era Tom Jobim musical, que retrata a vida e a música de Antônio Carlos de Almeida Brasileiro Jobim.

 A trajetória do maestro soberano, como cantou Chico Buarque em Paratodos (faixa de LP homônimo), é mostrada em cena a partir do texto escrito por Nelson Motta e Pedro Brício, que, anteriormente, escreveram Elis — A musical, visto em Brasília há 10 anos, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Elton Towersey, brilhantemente, dá vida a Tom; enquanto Otávio Muller e Jean Amorim destacam-se ao interpretarem Vinicius de Moraes e João Gilberto, respectivamente. A eles se  juntam um elenco de 25 atores e 13 músicos, sob  direção artística de João Fonseca e musical de Thiago Gimenes.

Durante  duas horas e meia, atores e instrumentistas ocupam o palco e levam encantamento ao público com uma história bem contada e música de altíssima qualidade. Desde a estreia, em 17 de outubro, o musical vem lotando o Teatro Casa Grande, no Shopping Leblon, na Zona Sul carioca.

Praticamente nada ficou de fora do espetáculo, no que se refere a fatos relevantes da trajetória de Tom. Mais do que isso, consegue captar a alma de quem, para muitos, é o artista de maior relevância da música popular brasileira, ocupando patamar semelhante ao do genial Pixinguinha.

Chamam a atenção no roteiro fatos históricos, como o início da parceria com Vinicius e a consequente criação da Bossa Nova, tendo João Gilberto como principal intérprete; e o encontro com Frank Sinatra em Nova York. Obviamente, não foi esquecido o lançamento do álbum Elis & Tom, gravado no MGM Studios, em Los Angeles, na Califórnia (EUA), e lançado no mês de agosto de 1974 pela Polygram.

Além disso, quem assiste a Tom Jobim musical  entra em estado de epifania ao ouvir canções emblemáticas da obra jobiniana, como Águas de março, Chega de saudade, Corcovado, Garota de Ipanema, Pela Luz dos olhos teus, O morro não tem vez, Wave e Água de beber. Essa composta em Brasília, mais especificamente no Catetinho, onde, em 1959, Tom e Vinicius se hospedaram para compor Sinfonia do Alvorada, a pedido do presidente Juscelino Kubitschek.

No Instituto Antônio Carlos Jobim, instalado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, mantém-se em cartaz uma mostra que reúne discos lançados pela Polygram entre 1963 e 1994, fotos, documentos e outros objetos relacionados com o legado do ídolo inconteste. A instituição existe para cuidar do acervo deixado por ele. O acesso dos interessados em conhecê-lo é gratuito.

Dois anos antes de Tom partir para outra dimensão, Fernando Barros e eu o entrevistamos na casa dele, localizada no Alto Leblon, com ampla visão do Jardim Botânico. Durante a conversa, ele se ateve, por um bom tempo, a falar sobre o urubu. Chegou, inclusive, a escrever um poema, intitulado Ode ao urubu, no qual lista cinco espécies brasileiras da ave que, para ele, não tinha nada de mau agouro.

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