Opinião

Então é Natal (de novo)

Se passarmos a preencher as horas perdidas no feed com atividades mais desafiadoras, talvez 2026 demore um pouquinho mais para despontar no calendário

. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

 Que saudade do tempo em que um ano durava um ano e não três ou quatro meses, no máximo, como agora. Mal desembaraçamos os pisca-piscas e já é hora de voltar com eles para a árvore de Natal. Estraguei alguns cartões porque escrevi "Feliz 2024" — talvez, pudesse mandá-los assim mesmo, porque a maioria das pessoas que conheço também se nega a acreditar que a Terra girou quase 356 vezes desde que estouramos o champanhe em 31 de dezembro passado. 

O tempo é um tema fascinante, explorado pela astrofísica, a filosofia, a arte e o Google. Comece a escrever no buscador "Por que o tempo parece estar passando mais rápido" e verá que a pergunta já está pronta. O site-oráculo Quora é outra boa fonte para questionar a passagem tão rápida de algo que, um dia, nos pareceu tão longo. 

A psicologia explica que a percepção do tempo muda com a idade. Quando somos crianças, adolescentes e jovens, acontecem tantas coisas que esse excesso de experiências e sensações causa a impressão de vagareza. 

Aos 10 anos, você vai dormir no réveillon uns 5cm mais alto do que quando acordou em 1º de janeiro. Aos 17, começa o ano como recém-saído do ensino médio e pode terminá-lo pronto para o terceiro semestre da faculdade. Mas, a partir do momento em que a vida se torna previsível, o tempo começa a voar.

A explicação faz bastante sentido. Exceto quando crianças e jovens também se pegam perplexos com a rápida passagem do tempo. Nas buscas que fiz no Quora, um site em que se faz perguntas respondidas pelos usuários, vi inúmeros questionamentos de pessoas com 15, 20 anos, sobre a brevidade do tempo.

Uma resposta me chamou a atenção, particularmente. O usuário, que não tinha foto no perfil nem falou a idade, começou com a explicação lógica. Depois disse que também tinha uma teoria sobre a passagem do tempo parecer, hoje, meteórica até para os mais novos. E aí não se trata mais de como percebemos o tempo, mas do que estamos fazendo com ele. 

Esse usuário do Quora lembrou que, das 24 horas do dia, mais de um terço é desperdiçado nas redes sociais. De fato, o Relatório Global Digital 2024 mostrou que os brasileiros passam 9,13 horas diariamente conectados, sendo que 94,3% dos respondentes da pesquisa citaram aplicativos como Instagram, TikTok e Facebook como os que mais utilizam. As redes só perdem para os serviços de mensagem instantânea. 

Quem nunca pegou o celular de madrugada só para dar uma olhadinha e, quando se deu conta, passou duas, três, quatro horas vendo postagens? Pareciam minutos, assim como os anos nos parecem, cada vez mais, meses, e os meses, dias. 

Que em 2025, independentemente da idade, procuremos novas experiências — aprender um instrumento, fazer aulas de marcenaria, ler um estilo de livro diferente do habitual; enfim, como as crianças, que tenhamos um ano recheado de novidades. Se passarmos a preencher as horas perdidas no feed com atividades mais desafiadoras, talvez 2026 demore um pouquinho mais para despontar no calendário. 

Um feliz Natal e um 2025 com longos 12 meses. 

Paloma Oliveto
postado em 25/12/2024 06:00
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