Marcos Scussel — Vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe/DF)
O uso de celulares nas escolas tem sido tema de debates acalorados, envolvendo pais, educadores, legisladores e especialistas em educação. Isso ocorre porque os dispositivos móveis são onipresentes na vida de crianças e adolescentes, levantando questões sobre a qualidade do ensino e o bem-estar dos alunos.
Uma pesquisa do Datafolha mostra que a maioria dos pais é favorável à proibição dos aparelhos nas escolas, tanto durante as aulas quanto nos intervalos. Isso reflete uma preocupação crescente com o impacto do uso descontrolado desses dispositivos no rendimento e na concentração dos estudantes.
Entretanto, a questão vai além da proibição simples. Recentemente, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe/DF) participou de uma audiência pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para discutir a regulamentação do uso de celulares nas escolas. O debate destacou a necessidade de equilibrar o uso pedagógico da tecnologia com a prevenção de distrações e outros impactos negativos no aprendizado.
Durante a audiência, o sindicato argumentou que uma proibição rígida não é a solução ideal, defendendo a autonomia das escolas para definirem as próprias regras sobre o uso dos celulares, em colaboração com familiares e professores. Essa abordagem respeita as particularidades pedagógicas de cada instituição e permite que os pais escolham entre escolas com políticas mais rígidas ou flexíveis, de acordo com suas preferências.
O debate não se limita ao Distrito Federal. O Senado aprovou, nesta semana, um Projeto de Lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, incluindo recreios e intervalos. O texto permite que os alunos levem os aparelhos na mochila, mas proíbe seu uso, exceto em casos específicos, como fins pedagógicos, inclusão e atendimento à saúde. Aguarda, agora, sanção presidencial.
Por outro lado, os celulares podem ser poderosas ferramentas de aprendizado, desde que utilizados com responsabilidade e orientação dos educadores. O desafio é integrar a tecnologia ao currículo escolar de maneira construtiva, sem que ela se torne distração ou interfira no desenvolvimento dos alunos. A tecnologia é parte da vida cotidiana dos estudantes, e cabe aos educadores ensinarem seu uso consciente e produtivo.
Proibir os celulares nas escolas pode parecer uma solução fácil, mas é insuficiente para lidar com a complexidade do problema. O uso responsável da tecnologia deve ser parte do processo educativo, envolvendo escolas, pais e o poder público. Mais do que simplesmente proibir, é necessário educar para que o celular seja um aliado no aprendizado.
Essa realidade exige um olhar mais amplo. Em vez de optar entre proibição ou liberação irrestrita, devemos perguntar: como preparar os alunos para utilizarem as tecnologias digitais de forma produtiva? Isso inclui regras claras sobre o uso dos dispositivos e conteúdos que ensinem aspectos essenciais, como cibersegurança, privacidade e pensamento crítico diante do excesso de informações das redes.
Muitas escolas já implementam práticas como o uso de aplicativos educacionais, plataformas gamificadas e projetos interdisciplinares que integram a tecnologia às disciplinas tradicionais. Essas iniciativas mostram que é possível alinhar o uso dos celulares aos objetivos pedagógicos, promovendo o aprendizado de conteúdos e competências essenciais para o século 21.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer os desafios que o uso constante de celulares traz, como a exposição a conteúdos inadequados, cyberbullying e dependência tecnológica. Esses fatores reforçam a importância do papel mediador dos educadores e da parceria com as famílias para estabelecer limites claros e promover o uso consciente também fora da escola.
Como educador, acredito que o papel das escolas deve ir além de impor restrições. Precisamos preparar os alunos para o mundo digital, ensinando-os a navegar de forma crítica e consciente nas redes sociais. Isso requer apoio das famílias e de políticas públicas que reconheçam a tecnologia como parte integrante da formação. O uso consciente e produtivo dos celulares nas escolas depende de educação digital, regulação adequada e colaboração entre todos os envolvidos na formação das novas gerações.