José Natal*
Quando Maurício Tapajós e Aldir Blanc, em 1978, pela voz incomparável de Elis Regina, convocaram o país a uma reflexão sobre nossos avanços democráticos e a difusão da evidente diversidade cultural, a sociedade esclarecida se encantou com a mensagem sensível dos compositores. E ela veio com a sonoridade de uma melodia, que fez sonhar e refletir, e até hoje faz. Estava na música Querelas do Brasil ou pelo refrão "O Brazil não conhece o Brasil", na interpretação magnífica de Elis, eterna e ainda viva na nossa memória.
De lá para cá, e lá se vão 46 anos, muito do que a letra da música registrou e pediu aconteceu e está acontecendo. Embora ainda existam fragmentos de resistência em alguns segmentos sociais, Ministério do Turismo, Polícia Federal, Embratur e Banco Central, cada entidade em sua função, confirmam que o turismo nacional atingiu neste ano, até agora, a cifra de R$ 17,5 bilhões, com um movimento intenso de pessoas que andam Brasil afora visitando nossas praias, cidades históricas e adquirindo conhecimentos do legado cultural do país.
Segundo o Ministério do Turismo, desde o ano de 2019 esse avanço para a economia não acontecia. Lembra a fonte que esse índice foi registrado em julho último, impulsionado pelas férias escolares. Ou seja, dados confirmados indicam que os brasileiros, e também os estrangeiros, demonstram grande interesse em conhecer os encantos do nosso país. É fácil concluir, sem patriotismo exagerado, que as nossas belezas naturais e o charme do Brasil tropical têm tudo a ver com isso. Turismo é lazer, e, para que o país cresça ainda mais nesse setor e dele se beneficie, entram em campo o calor, o afago e o carinho daqueles que recebem o visitante.
Desse pacote de boas vindas fazem parte profissionais das empresas aéreas, agências de turismo, receptivos, hotelaria, locadoras de veículos e aquelas que cuidam da gastronomia — aliás, um dos ítens de maior aceitação por aqueles que por aqui transitam. Pelas estatísticas de quem cuida do turismo, as praias do nosso litoral nunca estiveram tão cheias de visitantes. O registro oficial confirma também que as cidades de Natal, Maceió, Salvador, João Pessoa e Recife são as mais visitadas no Nordeste. Apontam também que o mar, o afago e os encantos do Rio de Janeiro continuam com atrativos que conquistam turistas europeus e das Américas. Os visitantes não concordam muito com a definição da nossa Fernanda Abreu, que um dia disse que o Rio é "purgatório da beleza e do caos...". Para eles, é tudo beleza pura.
Vem do Banco Central a informação de que, nos últimos meses, o turismo rendeu ao país milhões de reais. Segundo o BC, somente nos primeiros oito meses de 2024, o Brasil recebeu mais de 4,45 milhões de turistas de outros países. Um aumento de 10,7%, relativo ao mesmo período de 2023. Durante o último mês de agosto, quase 428 mil turistas de outros países vieram ao Brasil, e por aqui deixaram milhões no caixa do país, fazendo o elevador da economia subir, e muito.
Segundo fontes do Ministério do Turismo, nem a fumaça dos incêndios criminosos que invadiram o país nem os exageros de São Pedro com fortes chuvas em várias regiões afugentaram visitantes. Essa realidade, ao que tudo indica com sinais evidentes de ação positiva, obriga e convoca o setor a melhorar sua estrutura de trabalho e a se modernizar. A política de incentivar e convidar o brasileiro a conhecer o Brasil tem o apoio de todos aqueles que, de alguma forma, também participam do processo.
As empresas aéreas já se manifestaram. O Estado da Bahia, por exemplo, terá a partir de janeiro de 2025 um benefício confirmado pela Azul Transportes Aéreos. As cidades de Lençóis, Guanambi e Barreiras, todas com potencial turístico, passam a contar com voos diários da empresa, a partir de Salvador. Uma opção a mais para que brasileiros que não conhecem o Brasil comecem a pensar em conhecer.
Para as agências que cuidam de organizar e programar passeios turísticos pelo Brasil, o ítem segurança surge como preocupação principal, e com absoluta razão. As cenas explícitas e absurdas de vandalismo e agressões de pessoas registradas nas ruas do Rio de Janeiro recentemente assustam e distanciam o cidadão de qualquer opção de lazer e descanso. Empresários do setor cobram dos ministérios do Turismo e da Justiça providências mais enérgicas, que evitem situações de selvageria que a cidade tem enfrentado com alguma frequência. O brasileiro quer conhecer o Brasil, mas, para que isso aconteça, que seja com segurança, onde quer que ele vá. Algo mais além de apertar os cintos.
Jornalista*