Esporte

Onde o artilheiro não tem vez

Os sucessores Fernando Diniz e Dorival Júnior não deram sequência às convocações de Yuri Alberto por um motivo: o vício de jogar com dois pontas abertos e um autêntico (ou falso) nove.

Coluna Esportes -  (crédito: Caio Gomez)
Coluna Esportes - (crédito: Caio Gomez)

Quem já tentou de quase tudo neste ciclo em busca de um camisa 9 para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2026 não pode abrir mão de pelo menos testar Yuri Alberto. Nem que seja em um período de treinos nas Eliminatórias. Acima de tudo, é preciso entender a dinâmica do atacante do Corinthians para não queimá-lo.

Apenas o ex-técnico interino Ramon Menezes convocou Yuri Alberto. Chamou, porque o conhecia das categorias de base da própria Seleção. Tinha referências e o colocou em campo justamente com a camisa 9 na derrota para Marrocos por 2 x 1 no amistoso disputado em março de 2023.

Os sucessores Fernando Diniz e Dorival Júnior não deram sequência por um motivo simples: o vício de jogar com dois pontas abertos e um autêntico (ou falso) nove.

As melhores fases de Yuri Alberto no Corinthians foram com parceiros de ataque — as praticamente extintas duplas. Yuri Alberto se dava bem com Róger Guedes. Brilha mais ainda ao lado de Memphis Depay. Termina a temporada como artilheiro do Campeonato Brasileiro ao lado de Alerrandro do Vitória. É o goleador do país em 2024 com 31 gols. O primeiro com a camisa do Corinthians neste século!

Tite, Diniz e Dorival Júnior engessaram o Brasil com três atacantes. Não há quem ouse apostar em uma dupla como Müller e Careca (1986 e 1990), Bebeto e Romário (1994) ou Rivaldo e Ronaldo (2002). Tudo se encaminha para a Seleção ter dois pontas, possivelmente Raphinha na direita e Vinicius Junior na esquerda, improvisar Rodrygo de falso nove ou Pedro de autêntico nove, e rezar pelo retorno de Neymar até 2026 no papel de meia, o camisa 10. Olhamos para a outrora abundante indústria brasileira e dizemos: "Falta um nove". Temos, mas sentimos vergonha deles porque os comparamos com alguns fora de série que ostentamos nas últimas Copas. Careca (1986 e 1990), Romário (1994), Ronaldo (1994, 1998, 2002 e 2006), Luis Fabiano (2010), Fred (2014), Gabriel Jesus (2018) e Richarlison (2022). Sim, mas por que não testar Yuri Alberto?

Ele tem predicados para ser chamado em março para os duelos contra a Colômbia, provavelmente em Porto Alegre, e a Argentina, em Buenos Aires, pelas Eliminatórias. Nem que seja como opção no banco de reservas. Difícil acreditar nisso se Dorival seguir amarrado a um único sistema com dois pontas e um nove.

O Corinthians só emplacou o goleador do Campeonato Brasileiro uma vez: Jô dividiu a artilharia com Henrique Dourado (Fluminense) em 2017. Yuri Alberto quebrou esse tabu. Isso dá a dimensão do que ele fez na temporada de 2024.

Yuri Alberto encerra o ano em alta não somente porque encontrou o par perfeito Memphis Depay. Há também um enganche a serviço do brasiliense e do holandês. Rodrigo Garro é brilhante nas assistências. Coloca o camisa 9 na cara do gol como se usasse uma fita métrica. Dorival Júnior ainda não encontrou um Garro, um Arrascaeta, um Almada na Seleção.

O atacante do Timão tem um um outro diferencial: aprendeu a lidar com as emoções. Foi questionado por Mano Menezes se "era burro" no início da temporada. Enquanto astros como Neymar ignoram a psicologia, Yuri Alberto usa a ferramenta como aliada. "A gente sabe como o jogador precisa trabalhar a mente, a cabeça. É muito difícil, hoje só o talento não basta."

 


Marcos Paulo Lima
MP
postado em 14/12/2024 06:00
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