Durante décadas, o regime dos aiatolás se blindou de ameaças externas, principalmente de Israel e da Arábia Saudita, ao manter "aliados por procuração" no Oriente Médio. Entre eles, estavam o movimento xiita libanês Hezbollah, o regime sírio de Bashar Al-Assad, o grupo terrorista palestino Hamas e milicias xiitas iraquianas.
Mais recentemente, entraram para a lista os rebeldes separatistas huthis do Iêmen. A existência desses aliados representava um escudo estratégico para o Irã, mas a proteção começou a ruir há menos de três meses. Tudo graças a uma combinação de inteligência, de ousadia militar e de negociações nos bastidores da política externa.
Israel conseguiu praticamente pulverizar o Hezbollah. Primeiro, instalou explosivos em pagers e walkie-talkies e incapacitou — ou matou — milhares de soldados de baixa patente do movimento. Depois, perseguiu e assassinou as principais lideranças, antes de atacar o Líbano. Na Síria, o cada vez mais impopular Bashar Al-Assad se equilibrava no poder depois de 13 anos de guerra civil. Em 27 de novembro, rebeldes de um grupo jihadista, que manteve laços com a Al-Qaeda e outras facções da oposição, marcharam rumo a Damasco em frentes distintas.
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No último domingo, Bashar Al-Assad caiu. Queda precipitada pelo "abandono" de aliados-chave, como a Rússia e o Irã, e pelas concertações, nos bastidores, de Turquia, Estados Unidos e, provavelmente, Israel. Para o Estado judeu, o fim do regime de Al-Assad significaria a possibilidade de retomada das Colinas do Golã e a ruptura da linha de suprimentos que abasteciam o Hezbollah.
Mas as oportunidades também trazem riscos. A organização islamita Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), que começa a costurar o comando da Síria pós-Assad, ficou conhecida pelos laços com a rede terrorista Al-Qaeda, de Osama bin Laden, e com o Estado Islâmico. Aquele mesmo grupo cujos integrantes se filmaram decapitando prisioneiros no deserto sírio. A noção de que a força bélicas de Al-Assad poderia cair nas mãos de terroristas levou Israel a um bombardeio massivo a instalações militares em Damasco e no interior. Sinal de que a nova Síria surge como um pesadelo para Benjamin Netanyahu.
Além do Irã, a Rússia perde com a saída de Al-Assad. Em Latakia, à beira do Mar Mediterrâneo, Moscou mantém bases navais estratégicas. Com os rebeldes no poder, os planos russos se tornaram uma incógnita. O presidente Vladimir Putin precisará de jogo de cintura para convencer o novo chefe do governo transitório da Síria, Mohammed Al-Bashir. Nada que uma boa compensação financeira não resolva. Além das modificações no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio, o fim de Al-Assad se impõe como uma incógnita em relação ao futuro da Síria, ante o risco de disputa pelo poder.