Aprimorei meu gosto musical ouvindo canções emblemáticas no período dos grandes festivais, ocorridos em meados da década de 1960. O primeiro, promovido pela extinta TV Excelsior, apresentou ao Brasil a maior intérprete da MPB, a eterna Elis Regina, que defendeu Arrastão, composição de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.
Logo na sequência, vieram as históricas mostras sonoras promovidas pela TV Record e TV Globo, que revelaram a chamada geração de ouro da música popular brasileira, formada por Chico Buarque de Hollanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Milton Nascimento, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, Rita Lee, MPB-4. São artistas que ouço até hoje nos velhos discos que colecionei ao longo dos anos.
Os tempos agora são outros. Na terça-feira da semana passada, me detive na transmissão do Prêmio Multishow, realização do canal homônimo, que teve como atrações artistas, cantores e compositores que vêm se destacando na cena sonora nacional de agora — boa parte descobertos pelo público nas plataformas digitais, onde é veiculada a vasta produção deles. Quase todos, ainda, com pouco tempo de carreira.
Claramente, os apresentadores Tadeu Schmidt, Tatá Werneck e Kenia Sade e boa parte dos espectadores pouco sabiam da maioria dos concorrentes. Confesso que foi a primeira vez que ouvi Grelo, autor e intérprete de Só fé, eleito revelação do ano na categoria arrocha. Pude perceber, também, que a característica principal desse evento foi a pluralidade sonora, representada por estilos variados — do samba ao funk, passando pelo axé e brega. Obviamente, me surpreendeu o fato de Jão ter superado Caetano Veloso e Maria Bethânia na categoria show do ano. Por outro lado, me alegrou ver Do tamanho da vida, homenagem póstuma do Barão Vermelho a Cazuza, ser o rock vencedor.
Entre os destaques, estavam duas cantoras trans muito em voga atualmente. Liniker e Pablo Vittar, premiadas como autora da MPB e do Pop do ano: Caju e São amores, respectivamente. Liniker foi às lágrimas ao receber outro troféu, o de artista do ano: "Agradeço imensamente pela possibilidade de ser ouvida num país que silencia e amordaça de forma transparente tantas pessoas que pensam em sonhar e poder se nutrir do próprio sonho".
Mas o brilho das duas não conseguiu ofuscar a importância de Anitta, dona de carreira internacional, autora e intérprete de Com mil faces, premiado como funk do ano. Para ela, foi criado o Prêmio Vanguarda — uma deferência especial. Com presença frequente nos megafestivais internacionais de música eletrônica, o DJ e produtor brasiliense Alok foi outro premiado. Como não pôde comparecer, ele enviou uma mensagem de vídeo para a organização do evento.