O ano termina com uma boa notícia. A camada de 67,7 milhões de brasileiros na pobreza teve uma redução de 8,7 milhões, entre 2022 e 2023 — uma diminuição de 31,6% para 27,4% da população. Hoje são 59 milhões nessa condição. Outros 3,1 milhões não mais vivem em situação de extrema pobreza, um recuou de 12,6 milhões para 9,5 milhões — queda de 5,9% para 4,4%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e representam a maior redução da miséria no Brasil desde 2012.
O gerente de Indicadores Sociais do IBGE, Leonardo Athia, atribuiu esse resultado "ao dinamismo no mercado de trabalho e ao aumento da cobertura dos benefícios sociais". Ele explica que enquanto os programas sociais impactam, a diminuição da pobreza está alinhada a um mercado de trabalho mais aquecido.
No trimestre de julho a setembro deste ano, a taxa de desocupação ficou em 6,4%, uma queda de 0,5 ponto percentual (p.p.) menor do que no período anterior de abril a junho, (1,3 p.p). na comparação com o mesmo trimestre de 2023. Foi a segunda menor taxa de desocupação da série histórica da PNAD Contínua do IBGE, iniciada em 2012, acima da taxa do trimestre encerrado em 2013 (6,3%).
O estudo do IBGE ressalta que crianças e adolescentes, com menos de 1 a 14 anos, são a camada mais afetada pela pobreza — 7,3% são extremamente pobres e 44,8% pobres. Os idosos são os menos atingidos: 2% vivem em situação de extrema pobreza e 11,3% na pobreza. No recorte raça/cor, pobreza é condição de 35,5% das pessoas pardas e de 30,8% das pretas, contra 17,7% das brancas. Os negros são maioria na extrema pobreza (6% pardos e 4,7% pretos), enquanto 2,6% são brancos.
Regionalmente, o Nordeste e o Norte têm os maiores percentuais de pessoas pobres, respectivamente, 47,2% e 38,5%. As proporções são bem menores no Sudeste (18,4%), no Centro-Oeste (17,8%) e no Sul (14,8%). A parcela em extrema pobreza afeta 9,1% da população do Nordeste, 6% do Norte, 2,5% do Sudeste, 1,8% do Centro-Oeste e 1,7% do Sul.
Ainda em 2023, o número de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham (geração nem-nem) chegou a 10,3 milhões, o menor quantitativo e a mais baixa taxa (21,2%) desde 2012. A pesquisa revelou que entre os 10% dos domicílios do país com os maiores rendimentos, 6,6% dos jovens estavam no grupo dos nem-nem, e nos 10% das residências com menos rendimento, 49,3% deles também não tinham ocupação nem estudavam.
No universo dos nem-nem, as jovens pretas e pardas somam 45,2% . Desse percentual, 76,5% delas estavam fora da força de trabalho. "Isso demonstra que os afazeres domésticos e o cuidado com parentes dificultam as mulheres buscar uma colocação no mercado de trabalho", avalia a analista Denise Guichard, do IBGE.
Embora os dados sejam positivos, são indicadores de que ainda há um longo caminho a ser vencido para que o país, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, consiga erradicar fome e a miséria e garantir a todos os brasileiros meios e condições dignas de vida. O estudo revela ainda que as políticas públicas voltadas para a infância e juventude precisam ser fortalecidas, a fim de que esse público conquiste condições melhores de vida e de formação para acesso aos postos de trabalho. Eliminar as desigualdades, que fortalecem as injustiças socioeconômicas, é desafio imposto ao poder público.