Está correta a postura do presidente Lula ao rebater as acusações irresponsáveis e demagógicas de políticos e empresas francesas contra o agro brasileiro. Como ressaltou o chefe do Planalto, é importante que o Brasil avance nas negociações entre Mercosul e União Europeia — sem deixar de responder a eventuais leviandades — e amplie a presença brasileira em mercados ascendentes, como Índia e China, que somam quase 30% da população global.
O posicionamento do governo brasileiro vem no momento em que as tratativas entre o Mercosul e a União Europeia chegam a uma etapa decisiva. Em Brasília, a última semana foi marcada por extensas reuniões entre negociadores dos dois blocos econômicos a fim de dirimir ao máximo as pendências relativas ao acordo de livre comércio, em construção há mais de 20 anos. A intenção é avançar nas questões técnicas, passando para um nível superior, no qual se faz necessário o diálogo político.
Existe uma expectativa de que chefes de Estado sul-americanos anunciem resultados relevantes esta semana, na reunião de cúpula do Mercosul em Montevidéu. Em visita a Brasília, o presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, manifestou confiança nos trabalhos diplomáticos. "Somos otimistas, como Mercosul e como região, somos otimistas com a possibilidade de seguir estreitando laços com outras regiões, fundamentalmente com a Europa", disse.
Como se vê, a busca pela concretização do acordo Mercosul-UE ocorre por meio negociação coletiva, não cabendo neste momento a resistência de um país-membro em particular — o que dirá de uma empresa. Na quarta-feira, ao se manifestar sobre o tema, Lula foi direto ao ponto. "Se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada, quem apita é a Comissão Europeia. A Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) tem procuração para fazer o acordo, e eu pretendo assinar esse acordo este ano ainda", esclareceu.
Existem razões adicionais, de caráter geopolítico, para o Brasil avançar em acordos multilaterais de comércio exterior. Com a volta de Donald Trump à Casa Branca a partir de janeiro, é iminente uma ofensiva tarifária por parte dos Estados Unidos, com efeito sobre todos os países que mantêm comércio com a maior economia do mundo. Faz sentido, portanto, o governo brasileiro ampliar o leque de mercados interessados em adquirir produtos nacionais.
Essa mesma estratégia se aplica no estreitamento diplomático com a China. A recente visita do presidente Xi Jinping ao Brasil, com a assinatura de 37 acordos comerciais e de cooperação, atende aos interesses dos dois países. Apenas no item exportação, a entrada de novos produtos, como farinha de peixe e gergelim, no mercado chinês tem potencial de US$ 450 milhões na balança comercial brasileira.
Com pragmatismo e sem subserviência, o Brasil constrói condições para ganhar relevância na economia internacional. Nesse projeto, é fundamental o governo e o setor produtivo deixarem claro que não aceitam imposições que remetam ao colonialismo ou que causem danos, por meio de desinformação, à excelência do agronegócio.