Para 59% dos brasileiros, a maioria da população do Brasil é racista. Na opinião de 45%, o crime de racismo — inafiançável e imprescritível — vem aumentando, e no entendimento de 56%, ele é cometido por meio das atitudes das pessoas. Essa é uma compreensão tanto de brancos (55%) quanto dos pretos (64%) e dos pardos (60%). Os dados são da pesquisa do DataFolha, com 2.004 pessoas em todos os estados do país, e foram divulgados neste 20 de novembro, na primeira vez em que o Dia de Zumbi e da Consciência Negra foi feriado nacional.
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Ainda conforme a pesquisa, 74% das mulheres acham que a maioria ou todos os brasileiros são racistas. No entendimento de 27% dos consultados, o racismo está nas estruturas institucionais (governos e empresas). Para 13%, essa violência ocorre pela ação das pessoas e também nas instituições, sejam públicas, sejam privadas.
A percepção dos brasileiros entrevistados soa estranha ante uma população em que 56,7% (mais de 122 milhões) dos indivíduos são negros, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre deste ano. Mas os consultados pelo DataFolha têm uma visão correta da realidade do povo negro. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado em julho último, revelou que as denúncias de racismo, registradas em 2023, aumentaram 123% na comparação com o ano anterior — 11.616 ocorrências contra 5.100 em 2022.
Neste cenário de atraso e violência, o Rio Grande do Sul foi o estado com o maior número de ocorrências no ano passado: 2.857 casos. Embora o estado tenha uma hegemonia branca, foram os jovens negros gaúchos, do Grupo Palmares, que lançaram, 53 anos atrás (1971), o Dia da Consciência Negra. A proposta dos jovens conquistou o restante do país, até que a data se tornou oficial por meio da Lei nº 10.639/2003, e incorporou como obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas e escolas.
Expressiva parcela do povo negro é movida pela coragem e pela resiliência de Zumbi dos Palmares. O racismo dominante, que envergonha o Brasil, não é uma barreira intransponível. A luta incansável de pretos e pardos tem alcançado várias conquistas. Uma delas é a cota racial para acesso ao ensino superior. A Lei nº 12.711 estabeleceu que 50% das vagas fossem reservadas para alunos do ensino médio das escolas públicas.
Essa vitória beneficiou não só pretos e pardos, mas também indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência. Em 2014, as cotas raciais foram inseridas nas regras dos concursos públicos. A mudança tornou-se exemplar para vários segmentos do setor produtivo. Empresas passaram a contratar pessoas negras. Ainda que o preconceito hediondo persista, vários setores estão entendendo que o Brasil é um país etnicamente plural e com enorme diversidade cultural.
Agravar as punições aos racistas pode ser um caminho para inibir esse tipo de crime. Mas a solução para modificar a relação entre negros e brancos, ou com quaisquer outras etnias, passa pela educação em todos os seus níveis, tanto nas escolas quanto na família. As políticas de Estado têm de ser mais vigorosas e educativas para que a cor da pele não seja motivadora de violência ou de injustiças pelo poder público.
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