Fernando Scardua — Professor da Faculdade de Ciências e Tecnologias em Engenharia da Universidade de Brasília (FCTE-UnB); Juliana de Freitas Dias — Professora do Instituto de Letras da Universidade de Brasília (IL-UnB); Juliana Rochet — Professora da Faculdade UnB Planaltina (FUP-UnB); Leonardo Petrus da Silva Paz — Professor da Faculdade UnB Ceilândia (FCE-UnB)
Com atividades nos campi da Asa Norte, em Planaltina, no Gama e na Ceilândia, a Universidade de Brasília (UnB) é uma universidade multicampi. O termo remete a uma concepção com uma estrutura organizacional distribuída em distintos espaços geográficos, com polos de ação interconectados, embora situados em contextos territoriais diferentes, que buscam atender aos interesses das regiões em que atuam. Entende-se que, embora a potencialidade formativa e de produção do conhecimento de tal proposta de universidade seja imensa, algumas dificuldades se fazem presentes e precisam ser discutidas e enfrentadas de forma participativa.
Antigos desafios ainda precisam de atenção e novas questões aparecem, exigindo a revisão das políticas de gestão, especialmente daquelas que dizem respeito à integração acadêmica, administrativa e extensionista.
Entre as propostas que focalizam a dimensão multicampi da UnB, está a retomada do transporte intercampi, que é responsável por conectar não só os espaços físicos, como também garantir a integração curricular entre os cursos, de modo que os alunos podem escolher realizar estágios, pesquisas, disciplinas e atividades de extensão em todas as faculdades.
Outro ponto importante do novo projeto de ação da UnB é a proposta de estruturação de um ambiente de trabalho saudável por meio da articulação com as políticas de diversidade, inclusão, acessibilidade, atividades esportivas e culturais, além do investimento em espaços de convivência.
Quando docentes, técnicos e estudantes se uniram e imaginaram novos tempos, muitos debates importantes começaram a ser feitos, e, certamente, continuarão pelos próximos anos, com foco em ações para a valorização e a inclusão das comunidades que vivem ao redor de cada campus, com foco também no diálogo com as escolas para que o ingresso seja ampliado e a atratividade dos cursos seja revista.
A permanência do estudante em cursos de nível superior é desafiadora no contexto dos problemas de violência, vulnerabilidade econômica e mobilidade social vividos nas grandes cidades brasileiras, em especial no período pós-pandemia. O desafio da permanência se torna mais premente quando se trata de alunos que residem distantes, que estudam em cursos noturnos e que se encontram em situação de risco ou com necessidades especiais. É urgente uma revisão das causas da evasão estudantil e uma aproximação com o Governo do Distrito Federal (GDF) para uma busca conjunta por soluções.
Há muito a construir nos campi de Planaltina, de Ceilândia e do Gama. Se importantes passos já foram dados desde a criação desses três campi, há uma agenda de discussão, amadurecida com o tempo, a ser enfrentada.
Entre os pontos, o desenvolvimento e o fortalecimento/ampliação de programas de pós-graduação nos campi, visando, sobretudo, à nucleação da UnB nos territórios; a ampliação dos serviços prestados pelas bibliotecas como setores estratégicos para o ensino de graduação e pós-graduação, a pesquisa e a extensão; a revitalização das áreas desportivas, com foco em equipamentos desportivos, e implementação de soluções tecnológicas inovadoras para auxiliar na gestão do esporte na universidade; a manutenção/revitalização de infraestrutura, tendo em vista garantir o bom funcionamento e a durabilidade das instalações da universidade; e o investimento consistente em arte e cultura, para que ambas, em articulação com a produção do conhecimento, estejam presentes tanto no modo como a universidade opera — instaurando uma cultura universitária — quanto na convivência e no acolhimento, na implementação de espaços culturais, na organização de eventos e de cursos de formação abertos à comunidade.
Essas são demandas de toda a universidade, mas é mais sentida nos campi. No caminho da mudança no sentido da eficiência administrativa, será preciso resgatar a leveza das relações, a sensação de pertencimento, a escuta ativa e o ambiente colaborativo. A demanda por mudança, expressa na última consulta para reitoria da UnB, é desafiadora e somente será alcançada com a criação de canais diretos com a comunidade, para melhor aproveitar as soluções de estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes.
De fato, tais mudanças precisam caminhar no sentido da participação democrática, para sobrepor, com criatividade, os desafios orçamentários. O diálogo com o governo federal para recompor o orçamento será pauta permanente, assim como a busca por verbas de emendas parlamentares. A consolidação do Parque Científico e Tecnológico da UnB poderá constituir uma valiosa alavanca para o desenvolvimento do DF e Entorno. E, ao mesmo tempo, viabilizar o fomento das atividades de inovação, pesquisa, ensino e extensão, especialmente aquelas voltadas à busca de soluções de problemas da sociedade.
Porém, para além dessas melhorias internas, é imprescindível que a UnB se integre com as necessidades e os anseios das comunidades que circundam cada campus. São necessários projetos e fomentos para a atuação ativa de docentes e estudantes para derrubarem as barreiras que separam a universidade do território e para alinharem as perguntas de pesquisa com as urgências das comunidades vizinhas. Também é importante trazer escolas, alunos e docentes dos ensinos médio, fundamental e infantil para participarem de projetos dentro da UnB e repensar o modo de operacionalizar o currículo para possibilitar a inclusão na universidade dos mestres e das mestras de saberes tradicionais, a fim de partilharem seus conhecimentos ancestrais com os universitários.