Nós, que nos lembramos de como era o mundo pré-internet, costumamos pensar que somos testemunhas de uma revolução tecnológica tão importante para a humanidade quanto a descoberta da roda. Mas, sem minimizar o impacto significativo da rede mundial de computadores na nossa vida, ouso imaginar que a população do século 19 vivenciou uma transformação muito mais assombrosa.
Graças à internet, em frações de segundos, encontrei algumas das novidades do mundo oitocentista: eletricidade, radioatividade, telefone e fotografia são alguns deles. Foi naquele século que se desenvolveram bateria, locomotiva, motor elétrico, estrada de ferro, turbina de água, hélice de navio, fonógrafo, turbina a vapor, automóvel, cinema e um tanto de outras coisas que mudaram dos costumes à economia. Em resumo, uma pessoa nascida nas primeiras décadas do século 19 passou da carroça à locomotiva e ao carro, da carta ao telefone, do retrato a óleo à fotografia, da vela à lâmpada.
Enquanto Inglaterra estava, literalmente, a todo vapor, no continente africano, 18 países foram feitos colônias do Reino, com a função única de fornecer matéria-prima para o desenvolvimento industrial da metrópole. Até o início do século 20, simplesmente toda a África havia sido dividida entre os europeus. Assim como as ilhas da Oceania e boa parte da Ásia e da América Latina. Os Estados Unidos, que conseguiram a independência na era seiscentista, também já se dedicavam à indústria têxtil, siderúrgica, metalúrgica e automobilística.
A intensa atividade industrial trouxe imensos benefícios à humanidade, ao mesmo tempo em que cobriu as cidades de fuligem, injetando toneladas e mais toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. Foi somente no fim dos anos 1980 que os cientistas constataram que a temperatura do planeta estava aumentando e conseguiram associar o fenômeno à emissão massiva de gases de efeito estufa.
Enquanto as nações fabris acumulavam dinheiro e CO2, as colônias eram espoliadas, e suas sociedades, estimuladas a entrar em guerras civis. Nada mais justo, portanto, que os países que enriqueceram à custa da industrialização paguem, agora, a maior parte da conta das mudanças climáticas.
A COP29, sediada no Azerbaijão, tem como missão definir o novo fundo que destinará aos países em desenvolvimento recursos para mitigar e se adaptar aos danos das mudanças climáticas. A maior fatia tem de sair da conta dos ricos, que, todavia, têm se negado a pagar o montante que devem. Como bem disse o secretário-executivo da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, financiamento climático não é esmola, é obrigação de quem está poluindo o planeta há dois séculos.
Um relatório técnico da ONU calculou em US$ 2,4 trilhões por ano, até 2030, para compor o fundo global de adaptação climática. Os países ricos preferem falar de milhões. Em um "show de humildade", dizem que não têm dinheiro para isso. Porém, diferentemente do século 19, o Sul Global não se curva às ex-metrópoles e não abre mão de cada centavo dessa dívida histórica, do tempo das carroças e da luz de vela.