O presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump tomará posse com a presença de Joe Biden e de Kamala Harris. Um cenário destoante de 20 de janeiro de 2021, quando o republicano abandonou Washington horas antes da solenidade. Sinal de que, apesar de tudo, a democracia norte-americana está preservada. Duas semanas antes de Biden prestar o juramento à bandeira, uma turba de simpatizantes de Trump invadiu o Capitólio, vandalizou e posou para fotos nos gabinetes dos principais congressistas. O ataque deixou cinco mortos.
À sombra de um dos episódios mais graves da história dos Estados Unidos, Trump retorna à Casa Branca munido de superpoderes. Eleito com a maioria do voto popular, além de vencer em todos os sete estados-pêndulo, Trump contará com a maioria do Senado e da Câmara dos Representantes para fazer aprovar a sua agenda conservadora. Também terá juízes da Suprema Corte dos EUA com o mesmo viés.
A julgar pelas primeiras nomeações, espera-se uma política externa profundamente alinhada a Israel, com algum interesse pela América Latina e de firmeza com Irã e China. Provável nome para chefiar o Departamento de Estado, o senador da Flórida Marco Rubio promete levar adiante o plano de Trump de pôr fim à guerra entre Ucrânia e Rússia e fortalecer a pressão sobre a Venezuela e a Nicarágua. Ao mesmo tempo, o Brasil deverá ficar em segundo plano para Trump — muito mais por matizes ideológicas divergentes entre o Palácio de Planalto e a Casa Branca do que pela importância geopolítica e comercial do Brasil para Washington.
As primeiras semanas de governo Trump serão importantes e servirão como uma espécie de termômetro. Ele anunciou que, durante um dia, seria um "ditador", uma alusão a medidas que pretende tomar. Entre elas, estão a retirada do Acordo de Paris (mais uma vez) e a deportação em massa de imigrantes ilegais. Alguns especialistas citam que até 15 milhões de estrangeiros não documentados poderiam ser expulsos dos Estados Unidos. Trump também pretende fechar a fronteira com o México, o que pode causar imbróglio diplomático com o governo de Claudia Sheinbaum. EUA e México são importantes parceiros comerciais.
Será importante ver como Trump se portará em relação ao respeito pela democracia. Se fizer algum aceno autoritário, provavelmente contará com o aval do Senado e da Câmara, por ter a maioria das duas Casas. Nesse sentido, o sistema de freios e contrapesos — essencial para a fiscalização dos feitos do governo — fica comprometido. Tomara que o republicano esteja sempre atento ao Estado de Direito e às prerrogativas de seu cargo. E faça um governo transparente e positivo para os EUA e para o mundo.