Opinião

Ícones santamarenses

Pude, pela primeira vez, ver em cena Caetano Veloso e Maria Bethânia juntos, num encontro marcado por muita emoção, no Estádio Nacional Mané Garrincha

Tive o privilégio de, ao longo dos anos, presenciar shows solos de Caetano Veloso e Maria Bethânia, ícones da música popular brasileira, aqui em Brasília, no Rio de Janeiro e em Salvador. Alguns, por diferentes aspectos e razões, se tornaram marcantes e ficaram armazenados na minha memória afetiva.

Era ainda estudante de jornalismo quando, em 1971, assisti a Rosa dos ventos, espetáculo definidor da carreira de Bethânia, no Teatro da Praia, em Copacabana. Já no exercício da profissão, fiz a cobertura para o Correio Braziliense de Tempo Tempo Tempo, com o qual ela homenageou Vinicius de Moraes, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional.

No ano seguinte, logo após o retorno do exílio, Caetano fez o Transa, show de lançamento de LP homônimo, gravado em Londres. Ocupei um dos assentos do Teatro João Caetano, no centro do Rio de Janeiro. Em abril de 2014, o aplaudi no recital de voz e violão, na Esplanada dos Ministérios, que marcou o encerramento da Bienal Internacional do Livro de Brasília.

Mas, foi sábado último que pude, pela primeira vez, vê-los juntos em cena, num  encontro marcado por muita emoção, no Estádio Nacional Mané Garrincha. Pelo que pude perceber, esse sentimento tomou conta, também, da plateia, formada por 40 mil espectadores — de faixas etárias diversas — que ocuparam as arquibancadas, as cadeiras e o gramado do campo de futebol. Isso foi fácil de perceber pelos aplausos calorosos e o imenso coro que se formou em várias das canções cantadas pelos ícones santamarenses, apesar do problema relacionado com a acústica do local.

O show — com o qual cumprem turnê pelo país, acompanhados por uma big band, liderada pelo guitarrista Lucas Nunes e o contrabaixista Jorge Helder — é dividido em três blocos. No primeiro, eles intercalam interpretação de clássicos das respectivas obras. Já na abertura, Caetano impactou os fãs, com Alegria alegria. Na sequência, revisitou canções consagradas, como Cajuína, Gente, Oração ao tempo, Tropicália, e, quando reverenciou Gilberto Gil com Filhos de Gandhy.

Bethânia levou o público ao delírio ao soltar o vozeirão em Tua presença morena, Um índio e composições que remetem a Santo Amaro, origem dela e do irmão (com direito à projeção da imagem de Dona Canô e da imagem de Nossa Senhora da Purificação):13 de maio, Donzela se casou e Samba de dois dois. Aos aplausos calorosos recebidos, agradeceu como faz habitualmente em suas performances: "Obrigado, senhores!".

Caetano abriu o seu set com Sozinho, de Peninha, a quem fez referência. Na sequência, revisitou canções consagradas do seu repertório — entre as quais, Leãozinho, Você é linda, Os mais doces dos bárbaros, Você não me ensinou a te esquecer (da trilha do filme Lisbela e os prisioneiros, de Guel Arraes),  além de Deus cuida de mim, do pastor Kleber Lucas. Agnóstico, aproveitou-a para externar sua simpatia pelas igrejas evangélicas.

No set de Bethânia, ela trouxe para os seguidores sucessos que são frequentes em seu repertório: Explode coração (Gonzaguinha), Negue (Adelino Moreira), Vida (Chico Buarque), Brincar e viver (Guilherme Arantes) e As canções que você fez pra mim (Roberto e Erasmo Carlos), recebidos com gritos e sussurros.

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