Opinião

Visão do Correio: indefinição piora cenário econômico

É crescente a percepção de que a inflação está resistente e de que a economia entrará em uma nova ciranda de juros altos

O governo Lula precisa enfrentar com seriedade a conjuntura desfavorável que se apresenta na economia. Inflação acima do teto, dólar alto, incertezas sobre o pacote fiscal e o efeito Donald Trump tornam o cenário cada vez mais complicado. 

Na última semana, o Comitê de Política Monetária fez parte do trabalho. Aumentou a taxa básica de juros em meio ponto percentual, elevando-a para 11,25%. Como sempre acontece, há uma expectativa em relação à ata da reunião realizada pelo colegiado, a ser divulgada nesta terça-feira. É praxe entre analistas financeiros buscar alguns sinais emitidos pela autoridade monetária para obter o melhor posicionamento ante o momento econômico. Independentemente da mensagem contida na ata, contudo, o Banco Central já deixou claro que não descarta novas altas na Selic, a depender das circunstâncias.

A mensagem que todos querem ouvir, contudo, não está no Banco Central, mas no Palácio do Planalto. Do ponto de vista econômico, a semana do governo Lula foi muito ruim. Começou no fim de semana passado, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi surpreendido com o pedido do chefe para cancelar viagem programada para a Europa. Motivo: na sexta-feira, o dólar havia chegado a R$ 5,87, a maior cotação desde 2020, em razão das incertezas quanto à política fiscal do governo. 

Seguiram-se outros indicadores preocupantes. Na madrugada de quarta-feira, Donald Trump se consagrou presidente eleito dos Estados Unidos, indicando uma temporada de valorização cambial do dólar e medidas protecionistas. No mesmo dia, o Copom, como já mencionado, reajustou a taxa Selic. Na sexta-feira, mais um gosto amargo no cardápio econômico: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para se medir a inflação oficial, ultrapassou o teto da meta para 2024, chegando a 4,76% nos últimos 12 meses. Contribuíram para esse dado a alta na energia elétrica residencial (4,74%) e o preço das carnes (5,8%).    

Em meio ao cenário desfavorável, o governo passou a semana reunido para definir a sinalização econômica mais importante desde a aprovação do arcabouço fiscal: o pacote de corte de gastos. Exaurida a fórmula de aumento de receitas, chegou a inevitável hora de reduzir as despesas. Mas o que se viu, paralelamente às reuniões fechadas no Planalto e antes mesmo do anúncio oficial, foram ministros defendendo em praça pública as políticas de suas respectivas pastas. Está evidente o mal-estar no governo Lula. E quanto maior a demora, maior o desgaste político.   

Tanto do ponto de vista econômico quanto político, o Planalto precisa agir rápido e com firmeza. É crescente a percepção de que a inflação está resistente e de que a economia entrará em uma nova ciranda de juros altos. E o governo hesita em fazer aquilo que se espera de qualquer governo: disciplina nas contas públicas. É recomendável à administração petista se apressar se não quiser ter, em 2026, o mesmo destino dos democratas na eleição norte-americana.

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