OPINIÃO

EUA, jornalismo e democracia

Independente de quem ganhe — ou já tenha ganhado —, uma coisa é certa: o próximo presidente dos EUA terá muito poder

Existe uma chance (pequena) de que, enquanto você lê este texto na manhã desta quarta-feira, o mundo já saiba quem é o próximo presidente dos Estados Unidos da América. Enquanto estas linhas são preenchidas na noite anterior, contudo, não existia a menor chance de ter esse conhecimento. Diversas pesquisas de intenção de voto feitas no país mostravam um cenário apertado entre o candidato republicano, Donald Trump, e a candidata democrata, Kamala Harris.

Independentemente de quem ganhe — ou tenha ganhado —, uma coisa é certa: o próximo presidente terá muito poder. Óbvio que não será tanto quanto um presidente norte-americano outrora teve, mas, ainda assim, é uma quantidade de força significativa. 

Mas a pergunta que fica é: todos têm noção disso? Depois de tanto tempo vivendo dentro de uma redação, passei a me preocupar sobre o que era de fato importante para as pessoas e o que era importante para mim (ou para outros jornalistas). Será que os assuntos pelo qual me debruço são vistos com tanta importância assim na bolha fora do jornal? Será que andam se importando tanto com uma eleição em lugar tão distante?

Espero que sim. Chama-me a atenção como, nas últimas semanas, uma onda — apelidada de trend — tenta botar em xeque o quanto os jornais deveriam se preocupar com o embate entre Trump e Kamala. Questionar o quanto uma cobertura deveria "ignorar" notícias nacionais para se preocupar com a corrida presidencial norte-americana virou rotina nas redes sociais. A sensação é de que as pessoas pedem um afastamento do caos eleitoral "lá em cima". Algo até justificável, mas sem aplicação.

Não é de hoje que os jornais são colocados contra a parede de acordo com a cobertura que praticam. Tentam criar um manto de silêncio ou ditar "o que realmente importa". Quem trabalha no meio conhece o modus operandi de tais críticas. É algo histórico.

Vale lembrar, contudo, que a vitória de Kamala ou Trump pode ditar um novo ritmo na política mundial. E diferentemente de ações, o ritmo e a intensidade da política é o que realmente importa.

Na prática, a influência do vencedor na sua vida (sim, você que está aí lendo) são incontáveis. Meio ambiente, relações internacionais (em especial com a China e Rússia, o que a afeta a forma como todo o mundo vai interagir) até o comércio e o fluxo de dinheiro no planeta (já parou para pensar que diversos produtos que você consome serão afetados?). Muito ainda depende da democracia norte-americana.

Em cenários extremos, esse ganhador pode mudar até como postamos nas redes sociais — pedindo para os jornais que não falem sobre tal ganhador.

Enquanto esse texto é escrito, Kamala ou Trump ainda não estão na presidência norte-americana. Prevê qual dos dois embarcará no cargo seria irresponsável. Mas uma coisa é certa: o vitorioso pode mudar o mundo, queira a militância do Twitter/X queira, ou não.

 


Mais Lidas