A 29ª Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, mais conhecida como COP29, mostra como é difícil interromper a relação destrutiva do planeta com o meio ambiente. Está evidente o antagonismo instalado na comunidade internacional. De um lado, encontram-se os países que acumularam riquezas por mais de um século em razão do progresso proporcionado pela exploração de combustíveis fósseis. Do outro, figuram as nações pobres ou em desenvolvimento, que não tiveram a oportunidade de alcançar um patamar econômico de primeiro mundo.
As incontornáveis medidas para enfrentar a emergência climática esbarram na questão financeira. A pergunta é simples e direta: quem vai pagar a conta? Quem vai contribuir para evitar que o planeta entre em colapso, com desdobramentos gravíssimos que podem ceifar a vida de milhões de pessoas e causar trilhões de dólares de danos? Esse é o principal desafio colocado no Azerbaijão. O presidente Lula está rouco de tanto pedir, em diferentes foros multilaterais, que as economias desenvolvidas ajudem os países emergentes a evitar o desmatamento. Manter a floresta em pé custa dinheiro. É preciso investir na preservação da natureza, pois.
Infelizmente, a retórica brasileira e de outros países afetados seriamente pela crise climática encontra resistência. Organizações não governamentais denunciaram no fim de semana que mais de 1.700 executivos da indústria de combustíveis fósseis estavam presentes na COP 29. O objetivo está claro: dissuadir qualquer esforço concentrado para acelerar a transição energética e reduzir a emissão de gases de efeitos estufa. A condescendência com a lógica poluidora foi mencionada até pelo anfitrião do evento. Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, deixou claro que não há por que responsabilizar países produtores de gás e petróleo. Afinal, eles foram agraciados com um "presente de Deus". Faltou o sr. Aliyev se lembrar de que Deus não criou a natureza para ser destruída pelo homem.
Em meio a um cenário desfavorável para a sustentabilidade, o Brasil tenta se destacar pela intenção de honrar os compromissos estabelecidos pelo Acordo de Paris. O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou o plano de reduzir em até 67% a emissão de gases de efeito estufa até 2035. Ambientalistas consideram a meta modesta, mas, considerando a conjuntura política refratária a uma ação internacional em favor do meio ambiente, não se pode acusar o Brasil de negligência.
Enquanto os cientistas alertam que 2024 será o ano mais quente da história da humanidade e que a meta de manter o limite de aquecimento global em 1,5ºC está cada vez mais distante, os prognósticos para o curto prazo são sombrios. Os principais líderes mundiais se ausentaram na esvaziada COP 29, apesar do momento ambiental gravíssimo. E o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, já deu claros sinais de que manterá a política de negacionismo climático. Tempos difíceis virão.