LÚCIA TEIXEIRA — Doutora em psicologia da educação e presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil
O diploma universitário continua a ser um diferencial importante para o ingresso no mercado de trabalho, mas ainda há desafios a serem superados para alinhar a formação acadêmica às demandas do mercado, especialmente em algumas áreas. Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Semesp, em parceria com a Workalove/Pravaler, revelou que a conclusão do ensino superior é capaz de assegurar a empregabilidade dos egressos com qualidade. No entanto, o Brasil precisa promover ajustes estruturais importantes para ampliar as condições de acesso, permanência e conclusão no ensino acadêmico, permitindo que o país conquiste o necessário desenvolvimento científico e tecnológico em áreas estratégicas e de inovação e garanta a superação das desigualdades socioeconômicas que se perpetuam há décadas.
O estudo realizado mostrou que os benefícios de cursar o ensino superior ainda são elevados. Cerca de 88% dos 5.681 profissionais formados no ensino superior que responderam à pesquisa (70,9% formados há até cinco anos) exercem alguma atividade remunerada, e o valor médio da renda bruta de quem possui ensino superior completo é de R$ 4.640, contra R$ 2.712 de quem atua em cargo que não exige nível acadêmico.
A renda de quem trabalhava antes aumentou 95,2% após concluir o curso presencial, e 51,1% após a formação a distância. E pós-graduados ganham, em média, 44% a mais que aqueles apenas com graduação. Prevalecem, no entanto, dificuldades de alguns egressos em conseguir emprego na sua área de formação. A pesquisa mostrou que a maioria dos respondentes com uma atividade remunerada, 69,3%, atua na área de formação, 25,9%, em área diferente e 4,7%ocupam cargo que não exige nível superior.
As áreas de engenharias, fundamentais para possibilitar o crescimento econômico, apresentam bom nível de empregabilidade, mas, em alguns casos, fora da área de formação. Essa é uma questão mundial, agravada no Brasil pelo decréscimo da atividade industrial e pelas dificuldades da nossa economia nos últimos anos. Muitos engenheiros acabam optando por trabalhar no mercado financeiro, uma vez que sua formação técnico-científica possibilita cálculos quantitativos e resolução de problemas complexos. Essa situação poderá ocasionar falta de engenheiros no futuro, embora o quadro possa mudar rapidamente se o país voltar a apresentar um ciclo econômico positivo, impedindo que continuemos a perder formandos que vão trabalhar fora do país, como acontece atualmente.
Um detalhe que deve ser ressaltado é que, se em levantamento anterior, realizado em 2021, 41,4% dos egressos de todos os cursos diziam não se sentir preparados para o mercado de trabalho, na pesquisa realizada em 2024 esse percentual caiu para 38,8%. A principal razão identificada foi uma maior consciência e comprometimento com o desenvolvimento de habilidades e competências que atendem às prioridades que podem definir o sucesso ou insucesso no mercado, como visão de negócio, comunicação, liderança, resolução de conflitos, pensamento crítico, trabalho em equipe e uso adequado das novas tecnologias digitais, entre outras qualificações capazes de acompanhar as tendências e necessidades do futuro do trabalho e gerar inovações.
Sabemos que apenas 20% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior no Brasil. É fundamental que seja incentivado o aumento de ingressantes para resgatarmos o interesse dos jovens pela graduação com vistas à continuidade do processo de formação ao longo da sua trajetória profissional. Mas isso só vai acontecer de forma sustentável se pudermos atender a algumas condições.
A maioria dos jovens não ingressa no ensino superior por falta de informação e por questões econômicas, e também porque praticamente não existem políticas públicas de acesso e de permanência. Outra condição é incentivar maior aproximação entre as instituições de ensino superior e o setor produtivo, com a criação de novos cursos alinhados com as recentes demandas do mercado de trabalho. E, finalmente, que a educação de qualidade seja acessível a todos, para que possamos garantir geração de valor para o capital humano, pois é inegável que a educação superior é o principal meio de mobilidade social e desenvolvimento pessoal e profissional dos brasileiros.