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Prisão para golpistas

É inadmissível que um grupo de conspiradores tenha atuado para jogar no esgoto da história a escolha de 59,5 milhões de brasileiros que votaram em Luiz Inácio Lula da Silva

O mínimo que se espera é a condenação com o máximo peso da Justiça de todos os golpistas, sem distinção de poder ou cargo -  (crédito:  Ed Alves/CB)
O mínimo que se espera é a condenação com o máximo peso da Justiça de todos os golpistas, sem distinção de poder ou cargo - (crédito: Ed Alves/CB)

Em 17 de julho de 2022, entrevistei o cientista político norte-americano Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard e autor do best-seller How democracies die (Como as democracias morrem). Chamou-me a atenção um alerta feito pelo intelectual. Segundo Levitsky, "no mundo contemporâneo, onde golpes militares à moda antiga e a captura do poder pelo Exército são bem incomuns, os mais preocupantes indicadores são quando grandes forças, movimentos ou partidos políticos se recusam a aceitar os resultados de uma eleição". "Esse é, provavelmente, o indicador número um de que a democracia está sob ameaça", advertiu. As palavras de Levitsky se confirmaram no Brasil.  O fantasma de um golpe retornou depois de o presidente Jair Bolsonaro colocar em xeque a lisura, a transparência e o resultado das eleições. Por muito pouco teríamos retrocedido seis décadas e visto a democracia agonizar sob os fuzis e os tanques. 

Na mesma entrevista, Levitsky não descartou que uma invasão ao Congresso Nacional ocorresse nos moldes do ataque ao Capitólio. Ela não somente ocorreu, menos de seis meses depois, como em uma escala maior: envolveu, além do Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. "A qualquer momento, em uma democracia presidencialista, quando se elege uma figura autoritária e se coloca essa figura na Presidência, põe-se a democracia em risco", declarou. "Há risco de que Bolsonaro tente usar a violência para criar uma crise, a fim de reverter o resultado das eleições. Se será bem-sucedido ou não, quem sabe? Mas ele tentará", acrescentou, em 2022. O que teria sido o 8 de janeiro de 2023?

É inadmissível que um grupo de conspiradores tenha atuado para jogar no esgoto da história a escolha de 59,5 milhões de brasileiros que votaram em Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como é impensável e absurdo que um bando de fanáticos tenha desejado tolher as liberdades individuais e implantar um regime de terror, ao assassinar o presidente, o vice e um juiz do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Estivemos à beira do precipício. Por muito pouco não despencamos nele. O que há de mais lindo na democracia é a capacidade de escolhermos o nosso futuro e de construirmos um Brasil de paz. Qualquer retrocesso deve ser combatido e condenado. 

Aliás, o mínimo que se espera é a condenação com o máximo peso da Justiça de todos os golpistas, sem distinção de poder ou cargo. Conspiradores devem ser punidos com o rigor que o crime determina. Em nome de Vladimir Herzog, Rubens Paiva, Zuzu Angel e de tantos mortos e desaparecidos nos porões do regime militar. Mas também em nome de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e de tantos outros que abriram as portas da política para a democracia. Em nome de nossos filhos e netos, que merecem viver em paz e ir às urnas com liberdade.

postado em 27/11/2024 06:00
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