Heloisa Morel*, Haroldo Rocha**
Avaliação docente no Brasil ainda é um assunto tabu tanto entre educadores quanto nas redes de ensino. No entanto, qual seria o mecanismo para que esses profissionais sejam ouvidos e apoiados em suas necessidades? Como promover uma mudança de percepção em relação à avaliação dos educadores que leve a considerá-la como uma estratégia para alavancar a melhoria da qualidade da educação brasileira?
A avaliação tem, há muitos anos, grande relevância em vários países do mundo, sobretudo nos que têm alto desempenho educacional. Há pelo menos duas razões que explicam isso: a primeira é que a avaliação tem enfoque na prática docente, que é o fator intraescolar mais intimamente relacionado à aprendizagem dos estudantes; a segunda é o fato de a avaliação representar um importante elemento que influencia a formação continuada, mantendo os professores atualizados e proporcionando um sistema eficaz de desenvolvimento profissional.
No Brasil, temos dois exemplos bem-sucedidos de avaliação dos professores no estado do Paraná e no município de Sobral, no Ceará. No Paraná, o Programa Formadores em Ação, é uma política instituída com sucesso na rede. Na prática, periodicamente, os professores ingressantes gravam aulas e apresentam para um professor mais experiente da própria rede. Em uma sessão de devolutiva, são identificadas quais são as ações docentes que estão impulsionando as aprendizagens e quais os desafios para garantir uma aula em que todos os estudantes aprendam. O programa vem gerando resultados positivos no desempenho dos educadores e, consequentemente, na aprendizagem dos alunos, que obtiveram melhores notas no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2023 nas disciplinas de língua portuguesa (em 12%) e em matemática (em 6%).
Em Sobral, uma política de acompanhamento escolar com foco intensivo na formação de diretores, qualificando-os para a observação de aulas e a priorização da gestão das aprendizagens, tem demonstrado ao longo dos anos que a avaliação formativa dos educadores é uma estratégia para a melhoria dos resultados de aprendizagem dos estudantes.
Ao analisarmos as políticas educacionais de ambos os casos, Paraná e Sobral, observa-se que essas redes de ensino investiram fortemente em políticas de avaliação docente, com finalidade exclusivamente formativa. Ela tem por objetivo a identificação das dificuldades e fortalezas de cada educador, e, com esse diagnóstico, orienta a oferta de oportunidades para ampliar seus saberes e desenvolver competências com vistas ao seu contínuo desenvolvimento profissional.
Jorge Manzi, pesquisador da PUC do Chile, especialista no tema, destaca os benefícios da avaliação, tanto em termos individuais, quanto para as tomadas de decisões relativas a promoção, salários e incentivos dos professores. Segundo Manzi, quando a avaliação é efetiva, ela passa a ser um método mais transparente e positivo que pode, inclusive, substituir a abordagem tradicional de avanço na carreira de professor que, geralmente, considera apenas senioridade ou certificação de cursos.
Outra consideração do autor é que o ensino e a aprendizagem não melhorarão se não houver uma análise e uma devolutiva de alta qualidade aos professores com base em avaliações precisas de suas práticas pedagógicas, com padrões claros sobre o que é considerado eficaz. Sem medição da qualidade do ensino, os administradores escolares ficam no escuro ao tomar decisões críticas sobre as ações necessárias para que o sistema de ensino dê condições a todos os professores de se desenvolverem e atuarem no seu pleno potencial.
A discussão sobre políticas educacionais voltadas para avaliação dos educadores é uma realidade em diversos países que estão aprimorando a aprendizagem dos alunos e a qualidade de educação.
No Brasil, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Apesar da complexidade do tema e seus desafios, a avaliação docente apresenta grandes oportunidades para melhorar a qualidade de nossa educação, como evidenciam as experiências de outros países.
Entretanto, para que as políticas de avaliação sejam realmente eficazes, é fundamental que sejam desenvolvidas com base em propostas sólidas, sustentadas por consenso político amplo, por mecanismos que garantam validade e confiabilidade, assim como respeitem o profissionalismo docente e garantam a participação dos professores. Somente assim, a avaliação poderá cumprir seu principal papel: promover o desenvolvimento profissional contínuo dos professores e a aprendizagem de todos os estudantes com equidade.
Diretora-Executiva do Instituto Península*
Coordenador Geral do Movimento Profissão Docente**
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